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A adoração pública em espírito e em verdade

“A adoração pública, ouso dizer, sempre foi uma marca dos servos de Deus”. Com essas palavras o piedoso bispo anglicano John Charles Ryle (1816-1900) procurava mostrar aos seus leitores, no opúsculo Adoração: prioridade, princípios e práticas, a importância da adoração pública e culto que devemos prestar a Deus (2018, p. 11). Por toda a história da igreja cristã, dizia ele, “Deus fez uso desse poderoso princípio e ensinou o seu povo a adorá-lo de modo coletivo, em público, e de modo individual, em particular” (2018, p. 11). Prestamos culto Àquele que procura por verdadeiros adoradores.

Ryle prossegue ao chamar a atenção para um dos motivos porque o autor de Hebreus exortou os irmãos, em condições normais, a não deixarem de congregar: “Em que lugar são os pecadores geralmente despertados, e as almas que estão em trevas são iluminadas? Em que lugar os espíritos são vivificados, e os que têm dúvidas, trazidos à decisão? Em que lugar os entristecidos são animados, e os sobrecarregados acham alívio? Onde, senão na congregação pública de adoradores cristãos, durante a pregação da Palavra de Deus?” (2018, p. 13). A questão, portanto, que se faz de suma importância, e abre o seu opúsculo, é: Como adoramos? O que torna o nosso culto agradável a Deus?

No capítulo de abertura do seu livro Em Espírito e em Verdade, o teólogo e filósofo cristão John Frame procura responder essa questão elucidando o que considera ser os princípios básicos que devem nortear a adoração pública. Para tanto, três são as pressuposições básicas que precisam ser consideradas na fundamentação de uma boa teologia do culto, a saber, que “Deus é soberano, relaciona-se conosco como Senhor do pacto e deseja que o adoremos somente como sua Palavra ordena” (2006, p. 16). Isto posto, temos que a adoração envolve, necessariamente, um compromisso escriturístico do povo de Deus.

Nas palavras de John Frame, o culto é, antes de tudo, “o serviço de reconhecimento e honra à grandeza de Nosso Senhor da Aliança” (2006, p. 21). Tal definição advém de dois conjuntos de termos das Escrituras, tanto no hebraico quanto no grego, que são geralmente traduzidos por “culto”. Em primeiro lugar, temos a noção de trabalho ou serviço: “No contexto do culto, esses termos se referem primariamente ao serviço de Deus executados pelos sacerdotes no tabernáculo e no templo, durante o período do Antigo Testamento” (2006. p. 21). O culto, portanto, envolve uma participação ativa, é algo que fazemos, que prestamos a Deus com integridade de coração.

Em segundo lugar, esse grupo de termos nos dá também a noção de curvar-se ou dobrar os joelhos, como modo de honrar ou prestar homenagem a uma pessoa importante, ou seja, “a pergunta “Como podemos tornar melhor o nosso culto?” leva-nos imediatamente a um enfoque especial – torná-lo melhor não para nós mesmos, mas para Aquele que desejamos reverenciar” (2006, p. 22). A culto é, portanto, algo que prestamos a Deus, e para a glória de Deus.

Servimos uns aos outros e honramos uns aos outros. Mas há um sentido especial segundo o qual somente Deus é digno de culto. O primeiro dos Dez Mandamentos diz: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20:3). Deus, chamado Yahweh (SENHOR) no Decálogo, é digno, idôneo para receber uma honra única, singular e não compartilhada por ninguém mais. O quinto mandamento: “Honra teu pai e tua mãe”, deixa claro que seres humanos merecem honra. Mas essa não pode competir com a reverência que devemos prestar ao Senhor. (2006, p. 22)

Certa vez o salmista disse que “Deus é tremendamente temido na assembleia dos santos; grandemente reverenciado por todos os que o cercam” (Sl 89:7). O autor não escreveu esse trecho para causar medo ao povo de Israel, seu propósito certamente não era esse. O temor, isto sim, advém da consciência de que adoramos Aquele que é Santo, Santo, Santo, digno de toda honra e toda a glória. Os verdadeiros adoradores, os quais Ele procura, com certeza não o adoram por medo, mas movidos pelo amor genuíno cuja fonte é o ato regenerador do Espírito Santo no coração do pecador.


REFERÊNCIAS

Bíblia de Referência Thompson: com versículos em cadeia temática; Antigo e Novo Testamentos. Trad. João Ferreira de Almeida. São Paulo: Editora Vida, 2010.

FRAME, John. Em Espírito e em Verdade. Trad. Heloísa Cavallari Ribeiro Martins. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

RYLE, John C. Adoração: prioridade, princípios e prática. Trad. Francisco Wellington Ferreira. São José dos Campos, SP: Fiel, 2018.