As parábolas de Jesus não são simples ensinamentos genéricos, como os encontrados em livros de autoajuda de aeroporto. Jesus é um divisor de águas na história da humanidade, e uma das características marcantes de seu ministério é o ensino por parábolas.
A palavra “parábola” tem origem no grego e está relacionada ao termo hebraico mashal, usado no Antigo Testamento para designar provérbios e ensinamentos simbólicos. Esse tipo de ensino é característico da tradição hebraica. O termo “parábola” também tem uma origem geométrica: refere-se a um corte em uma superfície cônica, em que os pontos mantêm igual distância dos eixos. Essa ideia se conecta ao método de Jesus, que usava comparações entre experiências naturais e princípios do Reino de Deus.
Como interpretar as parábolas?
Ao longo da história da interpretação bíblica, muitas parábolas foram alegorizadas, ou seja, receberam significados espirituais ou morais que iam além do que o próprio texto indicava. Ainda hoje, essa abordagem está presente em muitos cultos.
No entanto, estudiosos como Joachim Jeremias e Kenneth Bailey nos ensinaram a interpretá-las corretamente. Bailey, por exemplo, escreveu um excelente livro sobre as parábolas em Lucas e destacou a importância de considerar dois contextos:
- O contexto histórico e cultural da Palestina no tempo de Jesus.
- O contexto imediato dentro do próprio ministério de Cristo.
Outro autor importante nesse debate é Herman Ridderbos, que enfatiza a necessidade de interpretar as parábolas dentro da abordagem histórico-redentiva, ou seja, considerando o papel delas na história da redenção.
O propósito das parábolas segundo Jesus
Em Mateus 10, os discípulos perguntam a Jesus por que ele ensinava por meio de parábolas. Ele responde que suas parábolas revelam verdades do Reino para aqueles que têm “ouvidos para ouvir”, enquanto permanecem ocultas para aqueles que não estão espiritualmente preparados para compreendê-las.
Essa ideia está ligada a uma concepção hebraica de conhecimento. Diferente dos gregos, que tendiam a um pensamento mais racional e abstrato, os hebreus usavam sentidos como visão e audição como metáforas para o entendimento. Isso explica por que Jesus frequentemente dizia: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”—expressão que ressoa desde o Antigo Testamento até Apocalipse.
Ídolos, por exemplo, são descritos na Bíblia como tendo olhos, mas não vendo; tendo ouvidos, mas não ouvindo. De maneira semelhante, Jesus ensinava em parábolas para que aqueles com olhos espiritualmente abertos pudessem compreender, enquanto aqueles endurecidos pelo pecado permanecessem cegos para a verdade.
As parábolas e a criação
Jesus não usava parábolas apenas como ilustrações aleatórias para facilitar o entendimento. Há um princípio teológico profundo por trás disso.
O teólogo Helmut Thielicke argumenta que as parábolas estão conectadas a duas doutrinas fundamentais:
- A doutrina da criação por meio de Cristo – O Evangelho de João e Colossenses ensinam que todas as coisas foram criadas por Cristo e para Cristo. Ele é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de tudo.
- A doutrina do ensino por comparações – Jesus não apenas escolhia elementos do mundo natural para ilustrar verdades espirituais; ele usava elementos que já haviam sido criados com essa finalidade. O fermento, as ovelhas, os caminhos, a porta e o pão não são apenas metáforas convenientes, mas foram intencionalmente criados para apontar para realidades do Reino de Deus.
Portanto, Jesus ensinava por parábolas porque toda a criação remete a ele. Para aqueles que têm corações e mentes abertos, as parábolas são revelações. Para aqueles ainda presos às trevas do pecado, elas permanecem ocultas, refletindo a atrofia espiritual que afeta os sentidos humanos diante da verdade de Deus.
Acreditamos que o estudo teológico é fundamental para todo cristão, e não apenas para pastores ou líderes. Afinal, a teologia nos ajuda a seguir a Cristo em todos os aspectos da nossa vida!
No Loop, nossa equipe oferece suporte pedagógico e trilhas de estudo personalizadas para seus interesses, permitindo que você aprofunde seu conhecimento teológico e lide de forma segura com as situações do dia a dia.