Todo mundo que já leu algum livro do Tim Keller fica repetindo essa expressão: presença fiel, presença fiel. Mas não adianta só ficar reproduzindo os clichês do mestre, não. Cadê a gente nisso tudo?
Pode até ter o Tim Keller aqui, beleza? Mas vamos entender direitinho de onde vem isso.
Essa expressão — presença fiel — foi popularizada dentro do evangelicalismo norte-americano e também sul-americano por meio das obras do Tim Keller, nosso querido. A gente gosta muito dele. Só que o Keller pegou esse conceito de um outro autor chamado James Davison Hunter. Não temos nada dele traduzido em português. Ele escreveu um livraço chamado To Change the World (Como Mudar o Mundo), publicado pela Oxford University Press — nada menos que uma das maiores editoras acadêmicas do mundo.
Nesse livro, o Hunter defende a seguinte hipótese: grupos muito menores que os cristãos, como a comunidade LGBT ou a comunidade judaica, são muito mais bem articulados culturalmente. Ele pega esses dois exemplos — bem distintos entre si — para mostrar que, mesmo sendo numericamente menores, eles estão muito mais presentes e ativos na formação cultural.
O Tim Keller leu essa análise e adotou o termo “presença fiel”, que está ali no Hunter. Mas veja: antes de ser uma análise cultural, é uma convicção teológica. Isso é muito importante.
Quando eu conhecia esse conceito só pela leitura do Keller, pensava que era coisa de um analista cultural secular, não cristão, que estava observando a cultura. Mas quando você vai à obra do Hunter, percebe que não é isso. Ele faz uma pergunta fundamental: fiel a quem? O que significa essa tal de presença fiel?
Resposta: fiel a Deus. Estar presente no mundo, nas culturas, nos ambientes — mas de maneira fiel a Deus. Isso muda tudo. Isso quer dizer que não se trata só de influenciar, ou de conquistar espaço, mas de viver com fidelidade no lugar onde Deus nos colocou.
Hunter vai desenvolver toda a sua argumentação mostrando que, mais importante do que dominar ou travar uma guerra cultural, é estar presente de forma fiel. Ou seja: sermos fiéis nas esferas em que atuamos. Se Deus nos colocou em determinada posição, que a gente esteja lá, firme, trabalhando com excelência. Se for nas artes, que a gente produza bastante. Na educação, idem. Dentro de casa, fora de casa, na igreja… Mas sempre com um critério claro: fidelidade.
Por quê? Porque isso espelha a concepção de um Deus que se fez presente entre nós — e que foi fiel. Essa visão da obra de Deus, especialmente na pessoa de Cristo, precisa produzir em nós esse tipo de presença no mundo.
Então, veja: o Tim Keller não errou. Como sempre, ele acertou ao trazer um autor que enxergou tanto os fenômenos culturais quanto a base teológica por trás da nossa atuação no mundo.
A grande pergunta é: vamos estar presentes para quê? Para sermos conhecidos? Para dominarmos? Para travarmos guerras culturais?
Não. Para sermos fiéis. O que se espera de um ministro é que ele seja fiel. E em cada esfera da vida — educação, economia, direito, medicina — há ministros atuando. Cada uma tem suas próprias “leis”, suas próprias lógicas. O nosso desafio é discernir essas lógicas e agir nelas com fidelidade a Deus.