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Qual a Diferença entre Pregação e Palestra?

Se você acha que a única diferença entre uma pregação e uma palestra é o fato de uma ser mais “avivada” e a outra mais “monótona”, este artigo é pra você.

Hoje quero conversar sobre a diferença entre pregação e palestra — ou entre pregação e aula. É muito comum, em alguns contextos, fazer uma distinção rígida entre quem é “pregador” (mais avivado) e quem é “mestre”. Dizem: “Ele ensina, mas não prega. Ele dá aula, dá palestra.”

Quero mostrar que, sim, há uma diferença real — mas ela vai além da didática ou da performance. Existe uma diferença teológica, e é por aí que quero começar.

Pregação é um elemento de culto

Essa é talvez a distinção mais importante e que passa despercebida. Muita gente tenta responder essa pergunta apenas observando o estilo do orador. Mas pense: aula não é elemento de culto. Palestra também não.

Se você consultar bons materiais sobre teologia do culto — inclusive recomendo o guia de estudos disponível no site do InC — verá que, junto com orações, cânticos e ofertas, a pregação ocupa um lugar fundamental no culto. Ela envolve:

  1. Leitura da Palavra
  2. Explicação da Palavra
  3. Aplicação da Palavra

Foi o que o próprio Jesus fez: foi à sinagoga, abriu o rolo de Isaías, leu, explicou e aplicou — naquele caso, à própria vida, porque Ele é o centro do texto.

Da mesma forma, nós, em culto, estamos diante da Palavra de Deus. Todos os atos do culto são respostas de obediência à proclamação da Palavra.

Portanto, a pregação é parte essencial do culto. Já a aula e a palestra não.
Você pode conhecer ótimos palestrantes ou professores — mas isso não os torna bons pastores. Porque além da performance, há convicções fundamentais envolvidas:

  • A eficácia da Palavra
  • O lugar da Palavra
  • O que a Palavra produz
  • A expectativa de que o pregador diminua, e Deus seja exaltado

Isso molda o coração de um verdadeiro pregador.

A estrutura da pregação

Gosto muito da forma como Hernandes Dias Lopes apresenta isso — e que vem da própria Escritura. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, vemos esse padrão:
Ler, Explicar e Aplicar a Palavra.

Alguns resumem em dois pontos (Explicação e Aplicação), partindo do pressuposto de que a leitura já aconteceu. O importante é: não fugir do texto. Tem muita “pregação” por aí onde o texto é lido e nunca mais é citado.

Pregação de verdade exige:

  • Leitura do texto
  • Explicação contextualizada (quem escreveu, para quem, em que situação, qual o sentido pretendido)
  • Aplicação à vida da igreja hoje

John Stott, em O Perfil do Pregador, diz: “Pregação sem aplicação é aula”. E é isso mesmo. Se alguém está apenas explicando contexto histórico, arqueológico ou fazendo reflexões teológicas sem aplicar no poder do Espírito Santo ao coração do ouvinte — então é aula, não pregação.

E se há espaço para perguntas, interrupções, ou o propósito não é glorificar a Deus e edificar o povo em culto — isso é palestra.

A diferença não está na emoção

A questão não é se o pregador grita, chora ou faz rir. Tem professor de ensino médio com mais carisma que muito pregador — e ainda assim é só aula.

Ao mesmo tempo, temos pregadores de tom constante, “monótonos”, mas que expõem, explicam e aplicam fielmente — e a Palavra cumpre o seu propósito.

Portanto, a diferença entre pregação e palestra é teológica:

  • O lugar que a Palavra ocupa no culto
  • O que se espera dela
  • A resposta em obediência
  • A edificação do povo
  • E a estrutura fiel à Escritura

Não é apenas uma questão de estilo ou carisma.

Atenção ao lugar e ao propósito

Não se trata só da estrutura, mas do lugar onde está acontecendo e como aquilo está sendo feito. Tem muita gente no culto fazendo mau uso da Palavra: dando espaço pra gente despreparada, com testemunhos vazios, politicagem, autopromoção.

Isso não é pregação. E o lugar disso não é o culto.
Entender essa distinção nos ajuda a nomear corretamente as coisas — e a restaurar a centralidade da Palavra de Deus no culto.