Não renunciei a coisa alguma; recebi tudo. Considero a mais alta honra que Deus pode conferir a qualquer homem chamá-lo para ser arauto do evangelho.
D. Martyn Lloyd-Jones
Iain Murray dizia que Deus chama homens para pregar sob as mais improváveis circunstâncias aos olhos humanos. E foi assim com David Martyn Lloyd-Jones (1899-1981), o “doutor”, como ficou conhecido. Quando era um jovem que havia terminado de se formar em medicina e, caminhando para uma sólida carreira, sendo assistente de Thomas Horder, em Londres, era visto por todos com uma brilhante futuro pela frente (2009, p. 4). Até que, aos 27 anos de idade, para a surpresa de seus colegas, tomou a decisão de interromper a promissora carreira para se tornar pregador do Salão Missionário de Sandfields, Gales Meridional.
Mas não foi uma decisão fácil, como bem descreveu Iain Murray, em O legado de Dr. Martyn Lloyd-Jones, que por três anos foi seu assistente na Capela de Westminster: “Ele amava a medicina; amava também a sua noiva, Bethan Philips, e em 1925 ela estava em dúvidas sobre se ele deveria alterar a direção de sua vida como estava pensando em fazer. Durante um ano e meio ele lutou com a decisão. Foi um fardo que lhe custou a perda de sono e de peso. Todavia, sua resposta a Deus não foi com espírito de sacrifício próprio, mas, antes, com a convicção de que lhe estava sendo dado um imenso privilégio e responsabilidade” (2009, p. 8). Por maior que fosse o seu amor pela medicina, seu coração foi atraído pelo Senhor ao ministério da Palavra.
Essa convicção do chamado de Deus o acompanhou durante toda a vida. Ele não deixou de amar a medicina, e sempre foi muito grato ao Senhor por todo aquele tempo na sua vida. Anos mais tarde, quando elogiado por sua escolha em relação à pregação, ele não hesitava ao dizer: “Não renunciei a coisa alguma; recebi tudo. Considero a mais alta honra que Deus pode conferir a qualquer homem chamá-lo para ser arauto do evangelho” (2009, p. 8). E de fato ele se tornou um dos maiores arautos do evangelho que a igreja cristã já teve.
Umas das grandes lições que podemos aprender com o legado de Lloyd-Jones diz respeito à sua integridade para com a mensagem das boas-novas e o seu desejo de glorificar a Deus em tudo que fizesse. Como diz Murray, “o que ele dizia estava em harmonia com o que ele era. Não havia nele nada que demonstrasse importância pessoal. Deus o tinha humilhado e lhe tinha mostrado que coisa vã é viver pela aprovação dos homens. O desejo de fama e de alta reputação que outrora ele tinha foi mortificado” (2009, p. 9). Seu compromisso era com a verdade, e não com a popularidade.
Para Lloyd-Jones, era um grande dano ao evangelho querer torná-lo mais agradável aos homens sob pena de comprometer a totalidade da sua mensagem. Não deveria haver meio termo aqui, assim como não poderia existir um “meio evangelho”; este só poderia ser outro evangelho, e não aquele pregado por Cristo e os apóstolos. Em suma, as boas-novas devem ser pregadas em sua totalidade, e com integridade. Esta é a tarefa de todo ministro cristão:
Ele acreditava que era preciso desafiar a arrogância humana. “Alguns de nós seríamos muito mais populares na igreja, como também no mundo, se não disséssemos certas coisas. Se algum pregador quiser ser popular, não deverá ofender ninguém”. Ele sabia que o poder de transformar os homens pertence a Deus. Lloyd-Jones via como um completo fracasso a tentativa característica do século vinte de tentar tornar a mensagem cristã mais aceitável para os homens. “Quanto mais a igreja tem acomodado e ajustado sua mensagem ao paladar das pessoas, maior tem sido o declínio da frequência aos locais de culto”. O cristianismo centrado em Deus é vital para a apresentação do evangelho” (2009, p. 19).
A base da unidade cristã é o compromisso com a verdade. Esta foi uma das principais mensagens do ministério de Martyn Lloyd-Jones. Se a pregação do evangelho é “a maior de todas as incumbências” da vida de um homem, então grande é a sua responsabilidade.
Quem, porém, é suficiente para essas coisas? Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a Palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus. (2Co 2:16b-17)
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REFERÊNCIAS
MURRAY, Iain H. O legado de Dr. Martyn Lloyd-Jones. Trad. Odayr Olivetti. São Paulo: PES, 2009.