Se você deseja interpretar a realidade sem cair na lógica das “listinhas” do que pode ou não pode, este artigo é para você.
Muitos de nós já ouvimos que devemos olhar para todas as áreas da vida com um olhar fundamentado na fé cristã. Ou seja, enxergar a realidade através das lentes da fé. No entanto, frequentemente recebemos essa orientação sem as ferramentas adequadas para aplicá-la. O resultado é que acabamos adotando uma visão dualista da realidade, separando-a em categorias como “sagrado” e “secular”.
Isso nos leva a viver num ciclo de alternância entre “momentos santos” e “momentos seculares”. Talvez você já tenha ouvido a clássica pergunta: “O que o irmão faz na vida secular?” Como se tudo o que acontece fora da igreja estivesse, por definição, fora do âmbito da fé.
Aqui, não estou discutindo o conceito de secularização de Charles Taylor — isso daria um ótimo vídeo para outra ocasião. Meu objetivo é mostrar como essa divisão entre sagrado e secular não reflete a maneira correta de interpretar a realidade pela fé cristã.
Estrutura e direção: Um novo olhar
Um autor essencial para essa reflexão é Albert Wolters, que escreveu A Criação Restaurada (Editora Cultura Cristã). Nesse livro, ele apresenta os conceitos de estrutura e direção, que nos ajudam a enxergar a realidade de forma mais alinhada com a fé cristã, sem cair no dualismo sagrado-secular.
O que Wolters ensina? Ele explica que Deus criou todas as coisas com uma estrutura criacional — ou seja, padrões fundamentais que são inalteráveis. O pecado não destruiu essa estrutura, mas alterou sua direção.
Antes da queda, tudo estava orientado para glorificar a Deus. Porém, após o pecado, muitas dessas estruturas passaram a ser direcionadas contra Ele. Assim, interpretar a realidade a partir da fé cristã significa identificar essas estruturas e avaliar se estão sendo usadas para glorificar a Deus ou não.
Exemplos práticos
1. Sexualidade
Muitos veem a sexualidade como algo intrinsecamente secular ou pecaminoso. No entanto, segundo a Bíblia, a sexualidade faz parte da criação divina — é uma estrutura. O problema não está na estrutura em si, mas na direção que ela toma.
Um casamento, por exemplo, segue uma estrutura criacional: união entre um homem e uma mulher, baseada na monogamia e na fidelidade. No entanto, essa estrutura pode ser direcionada de forma errada, como em casamentos por interesse financeiro (o famoso “golpe do baú”). Aqui, a estrutura permanece, mas sua direção é distorcida.
Assim, a questão central não é apenas se algo é permitido ou proibido, mas se a estrutura está sendo vivida de uma maneira que glorifica a Deus.
2. Arte, Política, Ciência e Tecnologia
O mesmo princípio se aplica a várias áreas da vida. A arte não é intrinsecamente “cristã” ou “secular” — sua estrutura criacional é a capacidade humana de expressar beleza e criatividade. No entanto, sua direção pode glorificar a Deus ou se afastar d’Ele.
O mesmo vale para a política, a ciência, a tecnologia e até a internet. O problema não está na existência dessas coisas, mas no uso que fazemos delas.
Conclusão
Portanto, não se trata apenas de seguir regras do tipo pode ou não pode, mas de entender:
- O que é estrutural na criação de Deus?
- Essa estrutura está sendo direcionada para glorificar a Deus ou para se afastar d’Ele?
Essa perspectiva nos permite interpretar a realidade de forma mais profunda, evitando tanto a rejeição desnecessária de certas áreas da vida quanto a adoção ingênua de qualquer prática. A fé cristã nos convida não a negar estruturas criacionais, mas a redirecioná-las para a glória de Deus.
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