os alicerces comunitários que sustentaram a Igreja na história
Todo aquele que descobre o conceito de cosmovisão, a trajetória pública de Abraham Kuyper ou a forma de enxergar toda a vida através das noções de soberania das esferas precisa enfrentar uma tentação e uma pergunta. A tentação de não manter um olhar meramente apaixonado para esses temas, e a pergunta fundamental sobre como sair desse âmbito ideal e realmente transformar sua realidade na mesma proporção da sua nova paixão?!
Colocando de outra forma: se o Neocalvinismo e a Filosofia Reformacional são abordagens tão completas para lidarmos com a cultura, por que seus expoentes contemporâneos não são tão bem sucedidos em transformar o mundo à imagem e semelhança das páginas daquela história? O que lhes falta?
Existe um detalhe nessa narrativa que não é contado porque é inglório, mas ninguém percebe que ele é a condição de possibilidade para que um conceito como cosmovisão tenha ressonância na realidade ou então uma figura como Kuyper tenha protagonismo na esfera pública. Vamos chamar esse “detalhe” que passou despercebido de “alicerces comunitários”.
A metáfora veio da construção e, assim como em uma edificação, os alicerces estão enterrados no solo e, portanto, invisíveis aos nossos olhos. Mas são responsáveis pela sustentação de toda a parte visível da construção.
É justamente dessa imagem que retiramos a ideia de um “alicerce comunitário”. No Neocalvinismo, por exemplo, é justamente aquela rede de famílias e igrejas que deram sustento a todo esforço visível das iniciativas teóricas e práticas do movimento — mas que são ignoradas hoje quando pensamos nos fatores que impactaram a sociedade europeia do século XIX.
Na história de Kuyper isso é notório: quando ele saiu da universidade de Leiden para seu primeiro pastorado em Beesed, ele não era crente! E ao chegar na simples igreja rural ele encontrou uma comunidade tão vibrante que não só o recebeu como estava, mas orou pela conversão de seu pastor, lhe deu livros de teologia saudáveis, lhe ensinou sobre o calvinismo e, por fim, o ganhou para a fé!
Veja o vigor dessa comunidade! Como não poderia surgir dela um Abraham Kuyper? Como um conceito de cosmovisão não iria florescer em um lugar assim? O mérito não está no Kuyper, nem na generalidade do seu uso da ideia de cosmovisão. Essa comunidade já tinha profundos alicerces comunitários estabelecidos no solo da Holanda que foram as bases para que teorias, pessoas, movimentos, artefatos culturais e instituições florescessem ali!
Entretanto, essa não é a história somente de Kuyper. Para cada teólogo e filósofo da nossa história das ideias cristãs existe uma rede de relações que possibilitava o trabalho desses servos de Deus. E isso desde a igreja antiga!
Pesquisas recentes sobre os dois primeiros séculos da igreja — que vivia sob intensa perseguição — mostraram que o fator responsável pelo crescimento e propagação do cristianismo não foi a discussão de ideias, a presença pública estratégica, nem planos evangelísticos bem pensados.
Antes, foram comunidades cultivadas na paciência! Profundos alicerces comunitários lançados no solo da Ásia, Europa, norte da África — e então, para todo o mundo!
Agora voltemos ao Brasil e busquemos entender por que as mesmas teorias não florescerem aqui: porque nós faltam esses alicerces comunitários!
Nossas igrejas em uma situação como a de Beesed teriam colapsado! Ou ainda, em um ambiente hostil como o do Império Romano, não aguentariamos a perseguição. Algumas comunidades não têm sobrevivido nem nas melhores condições climáticas possíveis — o que dirá debaixo de forte perseguição cultural e religiosa.
Nossos alicerces são superficiais. Não temos lastro de tradição e cristandade. Lutamos pelo básico e contra o bizarro! Não podemos nos deixar enganar pela nossa pequena bolha teológica: não adianta insistir em conceitos corretos, paradigmas de teologia pública, modelos filosóficos se não cultivarmos por longos períodos de tempo profundos alicerces comunitários! Trata-se da necessária paciência em meio à perseguição. Somente em comunidade vibrantes é que essas sementes chamadas conceitos e pessoas florescem e conseguem transformar o mundo!
Foi pensando em tudo isso que o Invisible College organizou o curso Paciência e Perseguição: os alicerces comunitários que sustentaram a Igreja na história.
Trata-se de uma jornada nos primeiros séculos da igreja para entender como aquele grupo minoritário, sem estruturas, sem favor político e sem perspectivas promissoras conseguiu não só sobreviver, mas propagar-se muito pelo mundo antigo. Vamos olhar para os primeiros teólogos e pastores da igreja tentando baixar referências e paradigmas para o nosso trabalho hoje que, guardadas as devidas proporções, exige muita paciência frente às diferentes e sofisticadas formas de perseguição que enfrentamos.
Todas as aulas ficarão disponíveis até dia 09/10.
Aula 01 (12/09, às 19h)
Sem esperança para a Igreja: a naturalização da escatologia no eclipse do céu
Aula 02 (15/09, às 19h)
Sem crescimento para a Igreja: o improvável crescimento do cristianismo no Império Romano
Aula 03 (19/09, às 19h)
Sem paciência para a Igreja: o caráter de Deus e o estilo de vida da Esperança
Aula 04 (22/09, às 19h)
Sem estratégia para a Igreja: como os cristãos eram agentes de crescimento?
Aula 05 (26/09, às 19h)
Sem didática para a Igreja: as igrejas locais como comunidades da cultura da paciência
Aula 06 (29/09, às 19h)
Sem otimismo para a Igreja: a impaciência de Constantino em seu modelo de Império cristão
Aula 07 + Live (03/10, às 20h)
Sem pessimismo para a Igreja: o amor a Deus e o esquecimento de si na Cidade de Deus de Agostinho
É casado com Carolinne e pai do Benjamim. É doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás, com período de pesquisa na Universidade Livre de Amsterdã, na Holanda, e graduado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano Brasil Central, em Goiânia, onde também é pastor efetivo da Igreja Presbiteriana Bereia. Trabalhou como capelão escolar do Instituto Presbiteriano de Educação, em Goiânia, e atualmente é o teólogo residente do Invisible College.
7 aulas com acesso 100% gratuito!
Alan Kreider – O Paciente Fermento da Igreja Primitiva (Editora SAl Cultural)
Michael Allen – A esperança do céu: um resgate da visão beatífica (Editora Fiel)
Mark Galli – Quando foi que começamos a nos esquecer de Deus? (Editora Mundo Cristão)
Peter J. Leithart – Em defesa de Constantino (Editora Monergismo)