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Por que temos tanta dificuldade em alinhar a nossa vida?

Este artigo é uma provocação sobre a dificuldade que temos em alinhar nossa vida para além das regrinhas e métodos de produtividade. A modernidade — o tempo em que vivemos — já foi caracterizada de várias formas. Se você consultar livros sobre o tema, verá termos como “pós-modernidade”, “hipermodernidade” e “modernidade líquida”. Dependendo do sociólogo ou filósofo, essa caracterização muda.

Gosto muito da forma como o teólogo Herman Bavinck — na minha opinião, o maior teólogo do século XX e um dos maiores de todos os tempos — descreve o nosso tempo. Em 1904, no início do século XX, ele proferiu algumas palestras ao assumir o reitorado da Universidade Livre de Amsterdã, fundada por Abraham Kuyper em 1888. Essas palestras foram sobre cosmovisão, depois publicadas e amplamente divulgadas — e hoje temos essa obra disponível em português.

Bavinck começa o livro Cosmovisão cristã com uma constatação que estrutura toda a sua crítica sobre por que temos tanta dificuldade em alinhar a vida. Esse é um dos temas mais populares hoje em dia, pois todos enfrentam desafios para organizar a rotina. É difícil equilibrar filhos, estudos, trabalho, vida cultural, amigos, dieta, exercícios… Vivemos uma vida fragmentada.

A fragmentação, aliás, tornou-se um tema recorrente na cultura popular — basta ver os filmes contemporâneos. Bavinck, então, propõe identificar a origem disso. Gostaria de ler um trecho para vocês, se me permitem. Está logo na introdução:

“Na virada do século XIX para o século XX, vários nomes célebres lançaram-se em tentativas ousadas de determinar o caráter da nova era. Apesar de todas as designações conterem alguma verdade, nenhuma expressa plenamente a vida moderna. O que de fato marca o nosso tempo é a dissonância interna que consome o ego e o afã inquieto que o impulsiona.”

Essa dissonância interna do ego — ou seja, da nossa personalidade, alma, identidade — é um traço central da modernidade. Antes disso, não vemos esse nível de fragmentação na literatura, filosofia, sociologia ou poesia.

A virada do século foi, sim, um tempo de mudanças dramáticas. Mas, como toda época passa por mudanças, qual seria a peculiaridade desse período? Segundo Bavinck, é que todos sentem que não podem mais permanecer os mesmos, e muitos anseiam que o tempo passe rapidamente.

Hoje, parece impossível manter uma identidade estável. Estamos constantemente tentando afirmar quem somos: como mãe, pai, profissional, cristão, membro de uma igreja, alguém produtivo ou descansado… Nossa identidade está sempre em disputa.

Bavinck conclui dizendo que há uma desarmonia entre o pensamento e os sentimentos, entre a vontade e a ação, entre religião e cultura, entre ciência e vida. Falta-nos uma visão de mundo unificada. E essa busca por consonância é o grande projeto da nossa era.

O que marca o nosso tempo é essa necessidade de algo que una a nossa experiência fragmentada — pensamentos, vontades, sentimentos. Queremos coisas, pensamos outras e sentimos de formas ainda diferentes. Tudo isso revela uma dissonância interior.

A sede desse ego é o coração — o centro da nossa vontade, cognição e afeição. E, se o problema está aí, nenhum método ou dica de produtividade será suficiente para resolvê-lo. Precisamos lidar com a dimensão religiosa do coração humano.

Todo curso, livro ou influenciador que se propõe a ajudar no alinhamento de vida precisa ir além do comportamento ou da disciplina. É necessário apresentar uma visão coerente da realidade, em que exista harmonia entre quem somos, nosso relacionamento com Deus e o chamado que temos em cada esfera da vida.

Esse é o grande desafio. É por isso que alinhar a vida é tão difícil — porque foge da nossa competência individual. Precisamos de um redentor. Já falamos disso em outros vídeos, mas quero aprofundar esse tema com Bavinck.

Se você se interessa por esse assunto, gostou da obra ou achou o tema instigante, fica o convite. Esta obra acabou de ser lançada em português e ainda não foi explorada como merece. Embora fale de cosmovisão, não é como os cursos e aulas de sempre. Há aqui algo novo, profundo, que precisamos examinar com atenção.


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