Se você acha que a única diferença entre uma pregação e uma palestra é o fato de uma ser mais “avivada” e a outra mais “monótona”, este artigo é pra você.
Hoje quero conversar sobre a diferença entre pregação e palestra — ou entre pregação e aula. É muito comum, em alguns contextos, fazer uma distinção rígida entre quem é “pregador” (mais avivado) e quem é “mestre”. Dizem: “Ele ensina, mas não prega. Ele dá aula, dá palestra.”
Quero mostrar que, sim, há uma diferença real — mas ela vai além da didática ou da performance. Existe uma diferença teológica, e é por aí que quero começar.
Pregação é um elemento de culto
Essa é talvez a distinção mais importante e que passa despercebida. Muita gente tenta responder essa pergunta apenas observando o estilo do orador. Mas pense: aula não é elemento de culto. Palestra também não.
Se você consultar bons materiais sobre teologia do culto — inclusive recomendo o guia de estudos disponível no site do InC — verá que, junto com orações, cânticos e ofertas, a pregação ocupa um lugar fundamental no culto. Ela envolve:
- Leitura da Palavra
- Explicação da Palavra
- Aplicação da Palavra
Foi o que o próprio Jesus fez: foi à sinagoga, abriu o rolo de Isaías, leu, explicou e aplicou — naquele caso, à própria vida, porque Ele é o centro do texto.
Da mesma forma, nós, em culto, estamos diante da Palavra de Deus. Todos os atos do culto são respostas de obediência à proclamação da Palavra.
Portanto, a pregação é parte essencial do culto. Já a aula e a palestra não.
Você pode conhecer ótimos palestrantes ou professores — mas isso não os torna bons pastores. Porque além da performance, há convicções fundamentais envolvidas:
- A eficácia da Palavra
- O lugar da Palavra
- O que a Palavra produz
- A expectativa de que o pregador diminua, e Deus seja exaltado
Isso molda o coração de um verdadeiro pregador.
A estrutura da pregação
Gosto muito da forma como Hernandes Dias Lopes apresenta isso — e que vem da própria Escritura. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, vemos esse padrão:
Ler, Explicar e Aplicar a Palavra.
Alguns resumem em dois pontos (Explicação e Aplicação), partindo do pressuposto de que a leitura já aconteceu. O importante é: não fugir do texto. Tem muita “pregação” por aí onde o texto é lido e nunca mais é citado.
Pregação de verdade exige:
- Leitura do texto
- Explicação contextualizada (quem escreveu, para quem, em que situação, qual o sentido pretendido)
- Aplicação à vida da igreja hoje
John Stott, em O Perfil do Pregador, diz: “Pregação sem aplicação é aula”. E é isso mesmo. Se alguém está apenas explicando contexto histórico, arqueológico ou fazendo reflexões teológicas sem aplicar no poder do Espírito Santo ao coração do ouvinte — então é aula, não pregação.
E se há espaço para perguntas, interrupções, ou o propósito não é glorificar a Deus e edificar o povo em culto — isso é palestra.
A diferença não está na emoção
A questão não é se o pregador grita, chora ou faz rir. Tem professor de ensino médio com mais carisma que muito pregador — e ainda assim é só aula.
Ao mesmo tempo, temos pregadores de tom constante, “monótonos”, mas que expõem, explicam e aplicam fielmente — e a Palavra cumpre o seu propósito.
Portanto, a diferença entre pregação e palestra é teológica:
- O lugar que a Palavra ocupa no culto
- O que se espera dela
- A resposta em obediência
- A edificação do povo
- E a estrutura fiel à Escritura
Não é apenas uma questão de estilo ou carisma.
Atenção ao lugar e ao propósito
Não se trata só da estrutura, mas do lugar onde está acontecendo e como aquilo está sendo feito. Tem muita gente no culto fazendo mau uso da Palavra: dando espaço pra gente despreparada, com testemunhos vazios, politicagem, autopromoção.
Isso não é pregação. E o lugar disso não é o culto.
Entender essa distinção nos ajuda a nomear corretamente as coisas — e a restaurar a centralidade da Palavra de Deus no culto.