fbpx

O Dia do Senhor na Nova Aliança

Artigo escrito por Dannyel Oliveira Souza, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2024


Introdução

Em nossos dias, um dos pecados mais negligenciados é a guarda do Dia do Senhor. Deixamos de entender a sua real importância e consideramos o domingo como um dia meramente qualquer. É como se não houvesse nenhuma obrigação neste dia, como se a ida à igreja fosse algo facultativo e pudéssemos dizer: este domingo não vou à igreja. Essa negligência com o quarto mandamento provém, de forma mais comum, da falta de compreensão do assunto, por não ser ensinado da importância e santidade do Dia do Senhor para a Igreja. Infelizmente, muitas igrejas, pela ausência de uma compreensão canônica das Escrituras, ensinam que “todos os dias são do Senhor; por isso, não existe mais o Dia do Senhor (era uma lei cerimonial com fim em Cristo)”.

No entanto, o que não percebemos, por negligenciarmos este pecado tão grave, é que suas consequências são claras. Quanto mais faltamos e negligenciamos o Dia do Senhor, mais endurecido ficará nosso coração para todos os pecados e mais frios espiritualmente estaremos. Deixar de guardar o domingo como Dia do Senhor é um desprezo ao próprio Deus criador e redentor! Diante de tal problema, precisamos entender o que é a guardar o Dia do Senhor nas Escrituras, desde sua criação até a Nova Aliança.

O padrão estabelecido na Criação

A primeira coisa que devemos perceber, ao falar do Dia do Senhor, é que sua raiz está na criação. Inicialmente, na Antiga Aliança, o Dia do Senhor era no sábado, por ter sido o dia em que Deus descansou após finalizar a criação e, especialmente, Ele o abençoa e o santifica. Ao abençoar um dia, Deus o estabelece como um símbolo e canal de bênçãos. Assim, devemos perceber que a informação dada a nós por Moisés no texto de Gênesis 2:3 não é por acaso. Quando Moisés nos diz que Deus, no sétimo dia, descansou e abençoou esse dia, é porque o próprio Deus estabeleceu um dia para si. Há uma ordem nos dias, uma organização divinamente estabelecida: de sete dias, são seis para um. Esse é o padrão estrutural da criação (Ex 20:11).

Isso quer dizer que o sábado é o dia em que o Senhor quer para si. O. Palmer Robertson comenta que a “santificação do Sábado indica que o Senhor da Criação estabeleceu o padrão pelo qual Ele deve ser honrado como Criador. É certamente apropriado que se separe tempo para o culto a Deus”1. Mais à frente, em sua argumentação, ele diz que “Deus indicou que espera que os homens apresentem-se regularmente a si mesmos, bem como os frutos do seu trabalho, para serem consagrados diante dele”2.

Deus está nos mostrando que um dia deve ser Dele para que não sejamos escravos do trabalho ou de nossas próprias vontades3. Essa compreensão é importante. O fim da criação não é o homem trabalhando, cultivando o Éden, se relacionando com sua esposa e iguais, mas oé o sétimo dia, o descanso. Deus e o culto à Ele é o propósito final da criação. O Sábado foi feito para nossa liberdade, não o inverso (Mc 2:27).

A teologia reformada organiza essa instituição com um apontamento para o “mandato espiritual”. “O terceiro mandado que foi dado envolve a expressão em forma de resposta da humanidade ao relacionamento que Deus estabelecera entre si próprio e os portadores de sua imagem” (GRONINGEN, 2002, p. 91). Para isso, Deus separou um dia semanalmente para que esse vínculo fosse sustentado e enriquecido. No Dia do Senhor, Deus quer que seu povo se reúna como sacrifícios vivos e apresentem os frutos do seu trabalho semanal (por meio dos dízimos e ofertas) a Ele. O que devemos entender aqui é a raiz do Dia do Senhor. Esse ensino é confirmado futuramente quando for estabelecida a lei para o povo na aliança mosaica.

O padrão estabelecido na Redenção

O segundo padrão estabelecido pelo próprio Deus quanto ao Seu dia é apresentado na lei mosaica (Ex 20:11; Dt 5:12-15). Por Deus ter liberto o povo do Egito, ou seja, tê-lo salvado, o povo deve guardar o Dia do Senhor. “A criação dá origem ao povo de Deus. A redenção cria de novo um povo para Deus. Em cada caso, o Sábado desempenha um papel vital”4.

Esse papel fica ainda mais claro quando percebemos que Deus faz com que o seu povo entenda a história e o tempo a partir da perspectiva do Sábado. Além da visão semanal da guarda do Sábado, o povo de Deus deveria, a cada sete anos, guardar a terra para que ela tivesse descanso (Lv 25:1-7). Como havia uma vida voltada ao cultivo, a ideia é mostrar que a criação também precisa de cuidado e recebe o sábado (Lv 25:4), pois a terra também é do Senhor. A ideia é dupla: primeiro, o cuidado da Criação do Senhor; segundo, a compreensão que não devemos ser escravos do trabalho.

Outra prova da importância do simbolismo sabático para a história é o ano do Jubileu (Lv 25:8-22; quinquagésimo ano, o ano sabático). O ano do Jubileu é o ano da libertação de todas as dívidas, ou seja, todas deveriam ser canceladas. Esse ano é tão simbólico que o profeta Isaías o empregou como imagem para simbolizar a chegada do Messias (Is 61:1-3), e o próprio Cristo escolheu essa passagem para representar o seu ministério (Lc 4:18-19). Percebamos a importância do simbolismo desse dia.

Voltando à guarda semanal, na Antiga Aliança, a guarda do Sábado é um símbolo de pertença ao povo de Deus. Por terem sido salvos e comprados por Deus, eles sabiam que deveriam guardar o Dia do Senhor. Desprezar o Dia do Senhor, o Sábado, é desprezar o próprio Deus. É isso que Ezequiel dirá ao povo de Israel: “Desprezaste as minhas coisas santas e profanaste os meus sábados” (Ezequiel 22:8).

Alguns tentam dizer que o quarto mandamento é uma lei cerimonial. No entanto, isso está errado. Ao olharmos para todos os Dez Mandamentos, percebemos que eles são instituições eternas e morais, com Deus e com os homens. Mais especificamente, ao olharmos para os quatro primeiros mandamentos, podemos perceber um padrão: O 1º diz que somente Deus (YHWH) deve ser adorado; o 2º nos instrui como Ele de ser adorado; o 3º ensina como deve ser a atitude do adorador; e o 4º dita que há um dia devotado para a adoração. Logo, não é uma questão cerimonial, mas moral diante do Deus Criador/Redentor5.

Querer romper com a guarda do Dia do Senhor na Nova Aliança em Cristo é querer romper com as próprias ordenanças da criação e a compreensão da redenção que Ele estabeleceu de forma simbólica e tipológica6. A guarda do Dia do Senhor não acabou, mas foi modificada do sábado para o domingo, na Nova Aliança.

O Domingo: a Nova Criação e Redenção

Para entendermos a mudança do Dia do Senhor do Sábado para o Domingo, é preciso lembrar do padrão da Criação e da redenção. Isso porque, nesta obra, Cristo estabelece um novo paradigma nesses padrões simbólicos. Não é mais uma redenção geográfica, ou do cativeiro, ou de opressões humanas apenas7. A Nova Redenção em Cristo é uma redenção completa; ela supera qualquer outro tipo de redenção. Na ressurreição, Jesus levou ao cumprimento final seu programa como Redentor. Na mesma ideia, Robertson diz que “a criação original produziu o mundo. Mas a criação/ressurreição levou o mundo à sua destinada perfeição”8, iniciada com o Cristo ressurreto!

Quando Cristo ressuscitou, inaugurou a Nova Criação e a plena redenção, o Sábado deu lugar ao Domingo. Cristo é a primícia da glorificação, é o início do Novo Céu e Nova Terra. O Domingo passa a simbolizar o novo padrão Criação. Já não mais trabalhamos para nos apresentar ao Senhor, mas agora apresentamo-nos ao Senhor para depois trabalharmos.

Conclusão

O quarto mandamento continua em vigor na Nova Aliança, modificando apenas o seu dia e perspectiva. O Dia do Senhor é confirmado no Domingo. Em Atos 20:7 e I Coríntios16:1-2, encontramos a igreja guardando o Domingo e podemos reconhecer que eles entendiam o Domingo como Dia do Senhor. Essa nova perspectiva do descanso é apresentada pelo autor de Hebreus em Hebreus 4:9-10, ao falar do novo descanso. Ele compara a obra de Cristo com o descanso de Deus no sétimo dia da Criação. Isso nos ajuda a perceber a mudança do Sábado para o Domingo.

Como cristãos, ainda somos obrigados a celebrar o Dia do Senhor alegremente. Devemos nos regozijar no descanso já realizado por Cristo ao nos dar a verdadeira paz. Nossa semana deve começar na presença do Senhor, em comunhão com o Seu povo, a igreja. Esse é o nosso chamado semanal, essa é a nossa divina obrigação espiritual diante do Senhor Jesus, guardar o Seu Dia!


1 ROBERTSON, O. Palmer. Cristo dos pactos. Tradução de Américo Justiniano Ribeiro. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 63.

2 Ibid.

3 VOS, Geerhardus. Teologia bíblica. Tradução de Alberto Almeida de Paula. São Paulo: Cultura Cristã. 2010, p. 175.

4 Ibid., p. 65.

5 PIPA JR, Joseph A. O Dia do Senhor é para você?. Tradução de Felipe Sabino de Araujo Neto. Brasília, DF: Editora Monergismo. 2021, p. 17.

6 VOS, op. cit., p. 175.

7 Vos comenta que “fomos liberados de tudo isso por meio da obra de Cristo, mas não fomos liberados do Sabbath como instituído na criação” (VOS, 2010, p. 178).

8 ROBERTSON, op. cit., p. 63.


Acreditamos que o estudo teológico é fundamental para todo cristão, e não apenas para pastores ou líderes. Afinal, a teologia nos ajuda a seguir a Cristo em todos os aspectos da nossa vida!

No Loop, nossa equipe oferece suporte pedagógico e trilhas de estudo personalizadas para seus interesses, permitindo que você aprofunde seu conhecimento teológico e lide de forma segura com as situações do dia a dia.


Referências bibliográficas

GRONINGEN, Gerard Van. Criação e consumação: 1º Volume. Tradução de Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. Número de páginas.

PIPA Jr, Joseph A. O Dia do Senhor é para você?. Tradução de Felipe Sabino de Araujo Neto. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2021. 38 p.

ROBERTSON, O. Palmer. Cristo dos pactos. Tradução de Américo Justiniano Ribeiro. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. 240 p.

VOS, Geerhardus. Teologia bíblica: Antiga e Novo Testamentos. Tradução de Alberto Almeida de Paula. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. 495 p.