Artigo escrito por Larissa Cristhina Giron Ferreira Vianna, estudante do Programa de Tutoria Avançada 2024
Introdução: os objetivos por trás do ato de conhecer
Na década de 1950, o pedagogo e psicólogo norte-americano Benjamin Bloom desenvolveu uma metodologia com a finalidade de extrair ao máximo a potencialidade de estudantes por meio do estabelecimento de objetivos de aprendizagem que levam em conta elementos cognitivos, afetivos e psicomotores. Essa tríade compõe a teoria que levou o seu nome: a Taxonomia de Bloom. Por meio dela, atualmente, inúmeros educadores, em diferentes partes do mundo, buscam conduzir o desenvolvimento de diferentes habilidades, em diferentes níveis dentro de sala de aula.
De acordo com a proposta de Bloom, o aspecto cognitivo volta-se para a capacidade de um estudante elaborar sentido sobre aquilo que está aprendendo, enquanto o aspecto afetivo diz respeito às emoções desenvolvidas nesse processo. Já o aspecto psicomotor leva em consideração a movimentação corporal na obtenção de novos conhecimentos. Tudo isso seguindo uma lógica de dificuldade progressiva.
Os recursos desenvolvidos por Benjamin Bloom podem ser bastante relevantes como auxílios no cotidiano dos professores. A despeito disso, o que um educador cristão deve considerar em sua prática docente? Nas palavras de Igor Miguel: “A natureza do conhecimento, o próprio ato de conhecer e o motivo por trás da busca do conhecimento fazem toda a diferença entre os intelectuais integralmente cristãos” (MIGUEL, 2021, p. 32). Logo, para além de auxiliar os estudantes ao desenvolverem o conhecimento, um professor cristão deve ter a clareza da motivação por trás disso.
A temática do cristão em sala de aula é um campo vasto e que tem sido explorado por inúmeros especialistas. Desse modo, o presente texto não tem como objetivo tecer uma ampla discussão, propondo novas metodologias àqueles que se encontram na seara da educação básica. Contudo, espera-se compartilhar brevemente reflexões que podem ser um ponto de partida para que o leitor busque informações mais densas, posteriormente. Essas reflexões serão voltadas para a motivação do ato de conhecer, a Palavra como baliza do conhecimento e uma leitura prática do conhecimento por meio do triperspectivismo.
1. A finitude humana na busca pelo conhecimento
John Frame destaca que “o fato de que Deus é Senhor também implica que o nosso conhecimento não está em igualdade de condições com o dele” (FRAME, 2010, p. 36). Somos criaturas de Deus, vivendo em um mundo também criado por Ele e que só subsiste por causa Dele. Até mesmo a gravidade que nos impede de flutuar por aí só existe porque assim Ele fez: “Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Salmos 24:1). Isso nos leva a um primeiro ponto: na busca pelo conhecimento, é preciso abraçar a finitude humana, entendendo que conhecemos a medida daquilo que Deus nos revela e jamais estaremos em pé de igualdade com Ele. Um conhecimento que despreza a autopercepção do ser humano enquanto criatura pode levar a grandes monstruosidades. Assim como Vitor Frankenstein se viu como um deus enquanto dava vida a um grande monstro, o conhecimento soberbo leva à destruição e à animosidade. O conhecimento em química e física, por exemplo, é uma dádiva do Criador para compreendermos fatos acerca de seu mundo e vivermos melhor nele e também o louvarmos por isso. Mas a motivação errônea para dominar essas disciplinas nos deu bombas atômicas e mortes de inocentes.
2. A Bíblia como pilar no processo de aprendizagem
Além da motivação do ato de conhecer, é preciso também considerar o prisma pelo qual conduzimos esse conhecimento:
Quando buscamos conhecer Deus obedientemente, presumimos o ponto fundamental de que o conhecimento cristão é um conhecimento sob autoridade, que a nossa busca de conhecimento não é autônoma, mas está sujeita à Escritura. E, se isso é verdade, segue-se que a verdade da Escritura (e até certo ponto o seu conteúdo) deve ser considerada como o conhecimento mais certo e mais seguro que temos. Se este conhecimento deve ser o critério para todo e qualquer outro conhecimento, se deve governar a nossa aceitação ou a nossa rejeição de outras proposições, não há nenhuma proposição que possa questioná-lo ou pô-lo em dúvida. Assim é que, quando conhecemos Deus, conhecemo-lo mais certa e seguramente do que conhecemos qualquer outra coisa. Quando ele nos fala, o nosso entendimento da Sua Palavra deve reger o nosso entendimento de todas as outras coisas (FRAME, 2010, p. 61).
Seja nas ciências exatas, biológicas ou sociais, o docente cristão deve ter o claro entendimento de que as santas Escrituras devem balizar o entendimento de toda a realidade. A compreensão de mundo pelo prisma do conhecimento de Deus dá os instrumentos necessários para lidar com um mundo que jaz no maligno, possibilitando viver de maneira íntegra nele sem que seja preciso se isolar e ausentar de espaços tão carentes de mentes cristãs, como as universidades e outros centros de pesquisa.
3. O triperspectivismo como prisma para abordar o conhecimento
Tendo em vista o porquê de querer conhecer e a base sobre qual esse conhecimento deve ser construído, podemos agora nos inclinar para uma abordagem mais prática. John Frame, por meio de sua teologia triperspectivista, nos dá suporte para tal objetivo. Em linhas gerais, a abordagem de Frame aponta para a compreensão da realidade por meio das perspectivas normativa, situacional e existencial, que devem ser compreendidas como elementos estritamente associados. A perspectiva normativa já foi brevemente abordada, entendendo que as Escrituras são a palavra de autoridade pela qual o mundo onde vivemos é compreendido. Esse aspecto, por sua vez, relaciona-se com os outros dois: situacional e existencial. Desse modo, aquilo que Deus nos revela determina o modo pelo qual lideramos com o meio onde vivemos, com o outro, e também como lidaremos com nós mesmos.
Diante disso, o docente cristão deve conduzir seus projetos em sala de aula de modo a mobilizar seus estudantes a se questionarem: “como o que eu creio deve influenciar o meu jeito de lidar com os problemas da vida, a me relacionar com o outro e a lidar comigo mesmo?”. Desse modo, por exemplo, o estudo da Revolução Industrial deixa de ser somente a apreensão de informações sobre a transição dos meios de produção e das relações de trabalho e torna-se uma porta para a discussão de como um cristão pode contribuir com inovações tecnológicas sem desconsiderar as necessidades humanas e a preservação de tratamento digno para diferentes pessoas na sociedade.
Considerações finais
Se Benjamin Bloom protocolou os aspectos cognitivo, afetivos e psicomotores como categorias fundamentais, podemos acrescentar três: o normativo, situacional e existencial, a fim de olhar para o processo de ensino-aprendizagem de maneira mais integral, entendendo que aquilo que se aprende não tem um fim em si mesmo, ou seja, não se limita às habilidades que um estudante pode desenvolver pragmaticamente, mas sua formação enquanto um ser humano que aponta para Deus por meio daquilo que aprende e do que faz com esse aprendizado.
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Referências bibliográficas
FRAME, John. A doutrina do conhecimento de Deus. Trad. Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
MIGUEL, Igor. A escola do Messias: fundamentos bíblicos canônicos para a vida intelectual cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2021.