Artigo de opinião escrito por Ninieth Calland de Almeida, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2024
Justo González, ao definir doutrina como “um ensino oficial de um corpo – no caso a igreja – que lhe fornece forma, consistência e diferenciação” (González, 2015, p. 9), nos leva a muitas inferências. Dentre elas, destacamos os credos e as confissões que, ao longo dos anos, afirmam o que o cristianismo crê e conduz as igrejas na sã doutrina. Há vários credos no meio da fé cristã. A Confissão de Fé de Westminster, em sua nota histórica, diz que “o credo é a fórmula de uma fé pessoal e principia com a palavra creio” (2019, p. 10). Contudo, no presente artigo, não nos deteremos em um credo específico, mas, sim, em saber o que são os credos, porque e quando surgiram, qual a sua importância e sua relevância à atualidade.
Héber Campos afirma que “Um credo ou regra de fé é uma afirmação concisa daquilo que alguém deve crer a fim de ser um cristão” (Campos, 1997, p. 1). Esses são alguns conceitos que nos mostram de maneira clara, objetiva e evidenciam doutrinas primordiais, auxiliando os cristãos na sua fé, bem como toda a igreja. Portanto, os credos declaram a fé, combatendo as heresias e servindo de base para o corpo doutrinário e teológico da cristandade. Eles surgiram na igreja cristã dos séculos IV e V quando ainda, no seu início, ela enfrentou polêmicas e discórdias e precisou afirmar a sua crença por meio de concílios como o de Niceia, de Constantinopla, de Éfeso e de Calcedônia.
Nesse sentido, a igreja deu resposta aos opositores de sua fé, formulando credos e, mais tarde, confissões. Notemos que esses documentos não são elaborações recentes, mas já percorreram milênios e fazem parte dos primórdios da fé cristã. Sua historicidade nos faz compreender quão longa é a sua existência e como foram tão bem fundamentados biblicamente, a ponto de perdurarem, servindo como identificação para a fé dos cristãos ainda hoje, tendo sido chancelados pela igreja, cujo passado tem importância duradoura e indispensável. Aqui também é interessante ressaltar a relevância da tradição. González nos adverte como a “tradição ocupa um lugar importante na fé cristã” (González, 2015, p. 221). Através dela, tivemos a transmissão da doutrina por intermédio de pessoas que falaram e escreveram.
Devemos, portanto, valorizar o passado, a história, os acontecimentos e os concílios que produziram os credos. Como nos diz novamente González: “o coração do cristianismo se encontra em alguns eventos do passado, logo o que esteja mais próximo a esses eventos, ou seja, o mais antigo, é melhor que qualquer inovação” (González, 2015, p. 222). Logo, os credos são publicações de grande valor da igreja do passado para a atual e para a futura. Quanto à importância dos credos, pode-se atestá-la pelos ensinamentos bíblicos o quão sério era confessar diante dos homens aquilo em que você cria, pois disso dependia a própria salvação (Rom 10.9).
Como doutrina ou dogma, os credos derivam da Bíblia e foram elaborados por concílios eclesiásticos competentes para tal, fortalecendo a crença cristã. Eles têm trazidos grandes benefícios na preservação da fé e na divulgação do evangelho desde os primórdios da era cristã até a atualidade. Têm servido para demarcar o que a igreja crê e prega, evitando o nepotismo de líderes eclesiásticos, pois todos saberão os limites para viver, falar e reivindicar.
Como afirma Carl Trueman, “Os credos oferecem resumos mais abrangentes e sucintos da doutrina cristã que qualquer outro exemplo” (Trueman, 2012, p. 224). Com eles, temos sínteses das convicções cristãs. Seus benefícios didáticos são proveitosos para instrução, para o batismo, para a utilização no culto, para a apologética e para a memorização, pois são concisos e apresentam os componentes centrais da crença cristã, sendo úteis também em classes de catecúmenos por sua função bastante pedagógica e por condensar a doutrina. Por fim, são preciosos por serem “corporativos de autoria e propriedade de igrejas corporativas representadas por seus oficiais” (Trueman, 2012, p. 236).
Concluindo, os cristãos têm sido os grandes herdeiros dessa bênção chamada credo, o qual tem beneficiado crentes de todas as épocas. É preciso não olvidar desse passado e valorizar os primeiros séculos da cristandade, dando real importância aos credos que têm identificado os crentes através dos tempos, contribuindo para a sua identidade. Mesmo de maneira condensada, os credos são ricos na expressão da fé crida pelos antigos cristãos. Essa confissão credal é uma afirmação de confiança num único Deus vivo e verdadeiro. Os fiéis de hoje devem valorizá-los para a sua vida doutrinária, subscrevê-los e publicá-los.
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Referências bibliográficas
BÍBLIA SAGRADA. Revista e Atualizada. Tradução: João Ferreira de Almeida. 2. ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1504 p.
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. São Paulo: Cultura Cristã: 2019. 240 p.
GONZÁLEZ, Justo L. Uma breve história das doutrinas cristãs. Tradução: José Carlos Siqueira. São Paulo: Hagnos. 2015.
TRUEMAN, Carl. R. O imperativo confessional. Tradução: Josaiías Cardoso Ribeiro Júnior. Brasília, DF: Monergismo. 2012. 268 p.
CAMPOS, Heber Carlos de. A relevância dos credos e confissões. Disponível em: https://cpaj.mackenzie.br/fileadmin/user_upload/7_A-Relevancia_dos_Credos_e_Confissoes_Heber_Campos.pdf. Acesso em: 04 ago. 2024.