Artigo escrito por Cristiano Araújo, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2024
“E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras.”
(Lucas 24:27)
Durante o trajeto entre Jerusalém e Emaús, caminhando com dois de seus discípulos, Jesus Cristo ensinou a respeito de si próprio nas “páginas” descritas naquilo que hoje chamamos de Antigo Testamento. Foram nitidamente impactantes os efeitos de tal experiência na vida daqueles discípulos: “Não estava queimando o nosso coração, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?” (Lucas 24:32). Ainda assim, e com certa facilidade, por diversas vezes vemos e ouvimos — quando não mesmo praticamos — a leitura da Bíblia como um conjunto de livros com uma “clara” separação: Enquanto o Novo Testamento fala de Cristo, o Antigo possui, no máximo, uma citação aqui e outra ali sobre Ele.
No entanto, ver e expor as Escrituras dessa forma contradiz o próprio texto bíblico. Jesus olhava para o Antigo Testamento e se via não só em partes, mas no todo. A existência de Cristo em toda a Escritura — Antigo e Novo Testamentos — é, inclusive, essencial para a correta interpretação da mesma. Nas palavras de John Stott: “O principal objetivo da pregação é expor as Escrituras com tal fidelidade e relevância que Jesus Cristo seja percebido em toda sua adequação para suprir a necessidade humana” (STOTT apud GREIDANUS, 2019, p. 38).
Nesse sentido, é perceptível, em nossos dias, a falta de pregações sobre Jesus tendo como base o Antigo Testamento. Por isso, Sidney Greidanus, em sua obra Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento, aborda pelo menos três razões para este problema, sendo: (1) a tentação da pregação centrada no homem, (2) a preocupação quanto à interpretação forçada e, por fim, (3) a separação do Antigo Testamento do Novo (GREIDANUS, 2019, p. 67). Contudo, apesar dos motivos apontados acima, há, em contrapartida, e diríamos até que mais fortes do que eles, diversas razões para prevalecer a pregação de Cristo também a partir do Antigo Testamento, dentre elas:
(1) o Antigo Testamento faz parte do cânon cristão; (2) ele revela a história da redenção que conduz a Cristo; (3) ele proclama verdades não encontradas no Novo Testamento; (4) ele nos ajuda a entender o Novo Testamento; (5) ele evita uma compreensão errada do Novo Testamento e (6) ele oferece uma compreensão mais completa de Cristo (GREIDANUS, 2019, p. 52).
Além disso, a Bíblia que Jesus e os apóstolos possuíam até então era, de fato, o Antigo Testamento, uma vez que o Novo ainda não havia sido escrito. Cristo se via nas Escrituras, os seus discípulos o viam nas Escrituras. Assim, por que deveria ser diferente para nós? Ao olhar os Evangelhos no Novo Testamento, particularmente nos chama muito a atenção o fato de como João inicia seus relatos: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus” (João 1:1). É como se o mesmo quisesse deixar bem claro que o que se seguiria dali para frente teria como base o início de tudo, e que lá estava Jesus, o Cristo, o Verbo, a Palavra.
João prossegue, no versículo 3 do mesmo capítulo, dizendo: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele nada do existe teria sido feito”. Como olhar para esse texto e não se render à verdade de que Cristo não só estava nos relatos do Antigo Testamento como também por meio dele tudo se fez? Já em Mateus 3:3, o apóstolo descreve João Batista como aquele que prepararia o caminho do Senhor, sendo esta uma clara referência e cumprimento a Isaías 40:3 (Antigo Testamento), que profetizou a respeito de Jesus Cristo. No que diz respeito aos atos redentores de Deus, Greidanus afirma que:
Não encontramos esse longo histórico dos atos salvíficos de Deus no Novo Testamento, que simplesmente assume essa história como fato e constrói sobre ela. Como somente o Antigo Testamento revela essa história da redenção, ele é indispensável para a igreja cristã (GREIDANUS, 2019, p. 54).
Por fim, não temos a intenção de esgotar todas as evidências de que nosso Senhor Jesus está presente e atuante também nos relatos do Antigo Testamento, não teríamos sequer tal capacidade; mas certamente podemos concluir que uma leitura, interpretação e pregação de Cristo inevitavelmente precisam passar por toda a Escritura – Antigo e Novo Testamentos. Abra os olhos e veja, Ele sempre esteve lá.
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Referências bibliográficas
BÍBLIA DE ESTUDO NVI. Nova Versão Internacional. São Paulo. Editora Vida. 2003. 2424 p.
GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento. Tradução: Elizabeth Gomes. 2ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2019. E-book. 571 p. Disponível em: https://www.amazon.com.br/dp/B0C5K2W527?nodl=1&ref_=k4w_ss_store_lp&dplnkId=c829c4ae-da30-4761-8e2f-e18a727a57b2. Acesso em 04 fev. 2019.