Artigo escrito por Natalia Lara, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2024
Geerhardus Vos, em sua obra Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos, delineia uma compreensão profunda do arrependimento, situando-o no contexto do ensino sobre a justiça do reino (VOS, 2010). Ele distingue três termos relevantes para o arrependimento: “metamelesthai“, que expressa um pesar emocional após um ato passado; “metanoein“, que implica uma mudança consciente de mente e direção na vida; e “epistrephesthai“, que indica uma transformação de curso de ação em direção a um novo objetivo. Esse arrependimento bíblico vai além de uma simples emoção passageira; é uma mudança profunda e abrangente na mente e na vida, direcionada para Deus como o foco central (VOS, 2010).
O arrependimento bíblico é distinguido de experiências semelhantes no paganismo pela sua compreensão do pecado e da necessidade universal do arrependimento. É uma mudança profunda e abrangente na mente e na vida, direcionada para Deus como objeto central. O arrependimento é visto como uma resposta teocêntrica à consciência da ofensa contra Deus, resultando em um retorno à relação correta com Ele. Essa necessidade de arrependimento é universal e independente da estima própria dos indivíduos (VOS, 2010).
Na sua missão de preparar o caminho para a chegada do Messias, João Batista pregava a importância do arrependimento e administrava batismos1. Vos (2010) cita que Jesus, ao ser batizado por João, tinha como finalidade levar sobre si o pecado e se arrepender pelo povo judeu. Jesus, em Marcos 1:15, diz que o Reino de Deus é chegado e é necessário se arrepender e crer no evangelho. O arrependimento está intrinsecamente ligado ao nosso relacionamento com Deus, pois só é possível a partir do arrependimento.
A busca pela salvação transcende um simples arrependimento genérico. Conforme aponta Vos (2010), apenas o “epistrephesthai” — uma transformação genuína em nossas vidas — conduz à verdadeira salvação. Nesse sentido, em Romanos 12:2, o apóstolo Paulo exorta-nos a não nos conformarmos com os padrões deste mundo, mas a sermos transformados pela renovação de nossas mentes, para podermos discernir a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Você, como leitor, pode estar se argumentando: “Eu creio em Jesus e me arrependi dos meus pecados, então estou apto para a salvação”. No entanto, o arrependimento ao qual Jesus nos chama não é apenas um evento único, ocorrido no momento da confissão de fé. É um processo contínuo, um compromisso diário de permitir que a Palavra de Deus penetre em nossos corações, expondo áreas de trevas para que possamos nos arrepender e renovar nossa mente segundo os princípios do Reino de Deus.
Essa busca diária pela transformação da nossa mente pode ser comparada à busca por hábitos saudáveis. Assim como nos esforçamos para nos alimentar bem, praticar exercícios regularmente e evitar alimentos industrializados para cuidar do nosso corpo físico, também devemos dedicar-nos diariamente à busca de nos alimentarmos da Palavra e nos arrepender diariamente. Mesmo que às vezes essas mudanças não sejam confortáveis para nós, é importante perseverar e renovar nosso compromisso todos os dias. Muitas vezes, mesmo com a melhor das intenções, acabamos caindo nos mesmos padrões de comportamento, mas o importante é continuar buscando a transformação e a renovação da nossa mente para viver conforme os padrões do Reino de Deus.
O padrão de vida cristã não deve ser apenas uma antecipação do que será no céu; ele deve ser uma realidade viva em nossos corações aqui e agora. Nosso Senhor deseja um relacionamento íntimo conosco, transformando nossos corações para podermos refletir Sua imagem e semelhança. Então, pergunto: como está seu hábito de arrependimento diário?
1 Mateus 3:2-12.
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Referências
BÍBLIA SAGRADA. Disponível em <https://www.bibliaonline.com.br/nvt>
VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos. Tradução de Alberto Almeida de Paula. 2ª ed. São Paulo: Cultura Cristã. 2010. 415 páginas.