Resenha crítica escrita por Samilly Gonçalves, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2024
OLIPHINT. K. Scott. A batalha pertence ao Senhor: O poder da Escritura na defesa da nossa fé. Tradução Felipe Sabino e Marcelo Herberts. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2013. 222 p.
O livro A batalha pertence ao Senhor: o poder da Escritura na defesa da nossa fé, de autoria de K. Scott Oliphint, tem o intuito de ser uma breve introdução a uma prática significativa e constante na defesa e recomendação da fé cristã, além de apresentar bases bíblicas fundamentais para isso. Originalmente, foi publicado em inglês com o título The battle belongs to the Lord: the power Scripture for defending our faith, em 2003. No Brasil, teve sua primeira versão publicada em português pela Editora Monergismo, em 2013, traduzida por Felipe Sabino e Marcelo Herberts.
O livro da presente edição contém 222 páginas, divididas em 6 capítulos, em que, por meio da análise exegética de passagens bíblicas centrais para a defesa da nossa fé, o autor demonstra a importância da apologética fundamentada no senhorio de Cristo, nas Escrituras e a sua prática diária com crentes e não crentes, uma vez que precisamos defender a fé até mesmo dentro de nossas instituições eclesiásticas quando estas são alcançadas por falsas doutrinas.
Na introdução, Oliphint explica que o nome do livro faz referência à batalha entre Davi e Golias, registrada em 1Samuel 17, e que Davi, ao se ver diante do gigante, reconhece que “a batalha pertence ao Senhor” (v. 47), e que, diante disso, em batalhas apologéticas, devemos fazer como Davi fez, entender e reconhecer que as batalhas pertencem ao Senhor: “O que é necessário na batalha do Senhor são armas que levem pessoas a se curvar, a dobrar seus joelhos e a reconhecer que o Senhor, e somente ele, é Deus. Só armas sobrenaturais podem realizar essa tarefa” (p. 25). Intitulado Proclamai vosso mestre, o primeiro capítulo discorre acerca do texto de 1 Pedro 3: 15-17, em que o autor pontua o senhorio de Cristo como o fundamento principal para a defesa da nossa fé, quando Pedro usa o imperativo “Santifiquem Cristo como Senhor no coração” (v. 15). Nas palavras de Oliphint: “É desse imperativo, dessa ordem de santificar a Cristo como Senhor que o resto da defesa e recomendação depende. Separar Cristo como Senhor em nosso coração é a nossa primeira prioridade” (p. 44).
Neste sentido, o autor ainda acrescenta que “Pedro não só ordena que defendamos a nossa fé, mas também diz como a fé deve ser defendida” (p. 51) — “façam isso com mansidão e respeito” (v. 16) —, assim como o próprio Cristo, e finaliza: “Para que comecemos a pensar dessa maneira, precisamos não apenas ler as Escrituras, por mais necessário que isso seja, mas também meditar no que lemos. Precisamos desenvolver o hábito de pensar através das implicações e aplicações da verdade apresentada na Palavra de Deus” (p. 53).
No segundo capítulo, Acautelai-vos dos idos de março, o autor recorre ao texto de Judas 1: 3. Assim, para Oliphint, tanto Pedro como Judas preocuparam em encorajar a igreja a se defender daqueles que buscavam subverter seus ministérios, conforme o autor prossegue: “A principal maneira de batalhar pela fé é explicar e expor a realidade e a verdade da própria Bíblia” (p. 83). E assim conclui: “O único modo de fazer isso, como temos visto, é reconhecer as Escrituras. Se soubermos, assim como Judas, em que consiste a graça, seremos capazes de fazer quando alguém entra na igreja com um “evangelho diferente”. Somos chamados por Judas a defender esse evangelho — essa fé — que o próprio Senhor entregou ao seu povo, uma vez em cristo e por todos os tempos” (p. 84).
O terceiro capítulo recebe o título de O ataque surpresa e, para este, o autor utiliza o texto de 2 Coríntios 10: 3-5. Neste contexto, não apenas o ministério de Paulo estava sendo atacado, mas também as verdades bíblicas, uma vez que os sofistas procuravam exaltar seus próprios ministérios. Diante disso, Paulo precisou não apenas falar com autoridade, mas também com graça, certo de que ainda que pregasse, apenas o Espirito Santo poderia convencer os irmãos da igreja de Corinto — “Nós o glorificaremos quando, e somente quando, nossa verdade for temperada com a graça e quando nossa graça for combinada com a verdade de Cristo. Isso não é algo que somos capazes de fazer por nós mesmos; não é algo que pode ser realizado por contra própria. Isso deve ser uma obra do Espírito.” (p. 92). Só será possível agir desta forma em consequência de uma vida pautada e fundamentada nas Escrituras, e Oliphint conclui: “Haverá coisas altivas no mundo com que deveremos lutar. O mundo, desde a queda, nunca careceu de argumentos para minar ou destruir a fé cristã. É impossível aprender todos eles; ninguém tem tempo para fazer isso. O que é possível é começar a levar todo pensamento cativo à obediência de Cristo” (p. 108-109).
No quarto capítulo, O bom com o ruim, Oliphint considera que a apologética é o bom combate do cristão, e assim sendo, os cristãos devem lutar com as devidas armas que Deus os forneceu. Mas, nesse caso, existem dois tipos de cristãos: os que fazem isso com confiança em Cristo e os que fazem confiando em si mesmos. Neste sentido, o autor usa texto de Romanos 1:16-18 e afirma que a primeira preocupação de Paulo é “assegurar-se de que os cristãos romanos entendam que esse evangelho é o poder de Deus” (p. 116) e que “o poder do evangelho está situado no fato de que ele revela a justiça de Deus” (p. 123), portanto, a revelação da ira de Deus e de sua justiça alcançarão seu clímax, no dia do juízo, quando Cristo voltar, a ira de Deus “é a expressão da sua santidade para com o pecado. É a reação justa e correta de Deus às transgressões à sua lei e, assim, ao seu caráter. Quando a Bíblia fala da ira de Deus, está falando da resposta de Deus à resposta humana à sua lei” (p. 132).
Quanto ao penúltimo e quinto capítulo, que recebe o título de O psicólogo divino, Oliphint dá sequência ao texto de Romanos 1: 19-32, em que ele afirma que Paulo faz uma avaliação divina da psique humana, útil para a defesa e recomendação da fé, e ele nos diz: “Esta é a verdade da questão: todos nós, criaturas feitas à imagem de Deus, conhecemos a Deus! (…) Mesmo aqueles alheios a Cristo, por viverem e se moverem na criação de Deus, e por Deus se manifestar nessa criação, conhecem-no clara e evidentemente” (p. 144). Paulo afirma que essa revelação se dá desde a criação do mundo (verso 20). Neste contexto, o que acontece é uma supressão da verdade (verso 23), que se revela como uma idolatria, em que, enquanto incrédulos, colocamos qualquer ídolo no lugar de Deus.
Portanto, diante da revelação natural, toda criatura conhece a Deus, mesmo que não o reconheça, tornando-as, assim, indesculpáveis – Deus as entregou uma condição mental reprovável (verso 24) e o autor conclui que “há evidência de Deus mesmo nas coisas ímpias e pecaminosas que vemos ao nosso redor. Esses pecados, como evidência da corrupção da pessoa, são também evidência da ira de Deus pelo pecado e da remoção da restrição graciosa do pecado na vida dos que se rebelam” (p. 159).
O sexto e último capítulo “Jerusalém encontra Atenas: apologética em ação”, Oliphint traz o texto de 17: 15-34 e sinaliza que existiam dois grupos de filósofos: epicureus e os estoicos. Ambos acreditavam e pregavam verdades bíblicas de maneira distorcida, pois as atrelavam a outros falsos deuses, e o autor fala a respeito da importância da persuasão para apologética cristã, considerando as atitudes de Paulo. Ele prioriza três coisas importantes para a sua audiência no Areópago: Deus existe; eles são à luz desse Deus e que eles entendam o evangelho. “Nosso objetivo na apologética é simplesmente dizer a verdade de uma forma bíblica. Se fizermos isso, teremos obtido sucesso aos olhos de Deus” (p. 184).
O livro se destaca por nos trazer um excelente escopo prático de apologética, segundo a Escritura. Reconhecendo o senhorio de Cristo como o principal fundamento da defesa da fé cristã, nos faz conhecer os textos essenciais que podem nos ajudar nessa batalha, sendo ela fora ou dentro de nossas igrejas, considerando o evangelho como poder e justiça de Deus, entendendo que Deus pode ser visto e compreendido por meio da criação. Diante da prática da apologética, precisamos ter muito mais que bons argumentos, mas ter nosso pensamento cativo a Cristo, fazendo o que nos cabe e deixando ao Espírito o que só ele pode fazer — “Separe Cristo como Senhor — e esteja pronto. A batalha pertence ao Senhor!” (p. 195).