Resenha crítica escrita por Fernanda da Costa Santos Boechat, estudante do Programa de Tutoria Avançada 2024
McGRATH, Alister. Teologia natural: uma nova abordagem. Trad. Marisa K. A. de Siqueira Lopes. São Paulo: Vida Nova, 2019. 368 p.
O livro Teologia Natural, de Alister McGrath, pastor anglicano, apologista, professor de teologia, religião e cultura, e pesquisador sênior do Harris Manchester College, apresenta uma profunda reflexão sobre as conexões entre ciência, teologia e fé cristã. Ex-ateu, McGrath é amplamente reconhecido como um dos mais influentes pensadores cristãos da atualidade. Dividida em três partes, a obra aborda a teologia natural como uma ponte entre ciência e religião, utilizando argumentos históricos e contemporâneos para sustentar sua análise. Os capítulos exploram sistematicamente os fundamentos históricos, as implicações teológicas e o diálogo com a ciência, oferecendo uma abordagem estruturada e rica em insights. Desde a introdução, o autor define os objetivos da teologia natural, destacando seu papel como elo entre fé e razão, ao mesmo tempo em que enfatiza sua relevância no contexto atual.
Na primeira parte do livro, intitulada A busca humana pelo transcendente, McGrath examina como, ao longo da história, a humanidade tem demonstrado uma inclinação natural para buscar o significado e a transcendência. Essa seção estabelece o pano de fundo para a teologia natural, evidenciando o desejo humano de compreender sua existência em relação a algo maior. McGrath argumenta que a teologia natural não é uma invenção arbitrária, mas uma resposta genuína a um anseio profundo e duradouro da humanidade, criando pontos de contato que reconhecem o impulso humano para algo além do intangível.
Os principais pontos abordados nesta primeira parte incluem: 1) a natureza da busca pelo transcendente, em que McGrath argumenta que a busca por algo além do material é uma característica universal da experiência humana. Ele destaca como a ciência, arte, religião e a filosofia oferecem respostas distintas à necessidade humana de sentido; 2) evidências na natureza e na experiência humana, onde o autor explora como o mundo natural desperta um senso de maravilhamento e questionamento, frequentemente associado a uma ordem transcendente. Intuições humanas de propósito e beleza são como reflexos dessa conexão com algo maior; 3) religião e transcendência, no qual McGrath introduz as religiões organizadas como repostas estruturadas à busca pelo transcendente, com destaque para o cristianismo, que, segundo o autor, combina respostas racionais e revelacionais para atender a esse anseio; 4) críticas ao materialismo e ao ateísmo, em que o autor refuta explicações materialistas ou ateístas que reduzem o desejo humano de transcendência a meros subprodutos biológicos ou psicológicos, argumentando que essas explicações não capturam a profundidade dessa experiência; 5) A teologia natural como articulação racional da transcendência, onde McGrath, por fim, apresenta a teologia natural como uma abordagem que busca compreender a busca pelo transcendente por meio da observação racional do mundo.
Na segunda parte do livro, intitulada “Os fundamentos da Teologia Natural: desbravamento e redescoberta”, McGrath explora as bases históricas e filosóficas da teologia natural, traçando seu desenvolvimento ao longo do tempo e destacando seu ressurgimento no contexto contemporâneo. Ele mostra como essa disciplina foi moldada e adaptada para enfrentar os desafios intelectuais do mundo moderno, reafirmando sua relevância.
Os principais tópicos abordados incluem: 1) Origens históricas na filosofia grega: McGrath examina as raízes da teologia natural nas ideias de Aristóteles e Platão, que identificavam ordem e propósito no cosmos. Ele demonstra como esses conceitos foram assimilados e reinterpretados pela tradição cristã, especialmente por Tomás de Aquino, que integrou o pensamento aristotélico à teologia cristã, criando um marco na relação entre fé e razão; 2) Teologia Natural na modernidade: A obra analisa o papel central da teologia natural durante a Revolução Científica. Cientistas como Isaac Newton consideravam a ciência uma maneira de explorar as obras de Deus no mundo natural. Nesse período, a teologia natural fundamentou argumentos racionais a favor da existência de Deus, como o argumento teleológico, que evidencia design inteligente no universo; 3) Desafios do Iluminismo e do pensamento secular: McGrath aborda o impacto do Iluminismo, que trouxe críticas e desafios ao conceito de teologia natural. Apesar disso, ele argumenta que a disciplina nunca desapareceu, mas foi reinterpretada para responder aos novos contextos intelectuais; 4) Potencial apologético na contemporaneidade: O autor destaca como a teologia natural pode ser uma ferramenta apologética eficaz no enfrentamento do secularismo, contribuindo para o diálogo entre fé e ciência em um mundo cada vez mais pluralista; 5) Uma teologia natural dinâmica: Por fim, McGrath apresenta a teologia natural como uma disciplina em constante evolução, adaptando-se às novas descobertas científicas e filosóficas. Ele defende que ela continua sendo um terreno fértil para o diálogo e a integração entre diferentes formas de conhecimento.
Na terceira parte do livro, intitulada “Verdade, Beleza e Bondade: proposta para uma teologia natural renovada”, Alister McGrath apresenta uma reinterpretação da teologia natural, moldada para responder às complexidades do mundo contemporâneo. Ele utiliza os valores transcendentais clássicos — verdade, beleza e bondade — como pilares de uma abordagem renovada, enfatizando a relevância desses conceitos na construção de uma teologia natural adaptada aos desafios e oportunidades atuais.
Os principais pontos abordados são: 1) A importância dos valores transcendentais: McGrath defende que verdade, beleza e bondade oferecem uma estrutura robusta para conectar a teologia natural às experiências humanas fundamentais; 2) Verdade e a busca pelo conhecimento: O autor explora a ordem, a regularidade e a inteligibilidade do universo como reflexos de uma verdade mais profunda, sugerindo que a compreensão científica do cosmos pode apontar para uma fonte transcendente; 3) Beleza como reflexo do divino: McGrath argumenta que a experiência da beleza, seja na natureza ou na arte, é um reflexo do Criador. Ele sugere que a contemplação do belo pode oferecer insights espirituais e uma conexão com o transcendente; 4) Bondade e a ordem moral: O autor discute a inclinação humana para o bem como evidência de uma ordem moral universal, enraizada em uma fonte divina. Essa bondade, segundo McGrath, transcende explicações puramente naturalistas; 5) Uma teologia natural dinâmica e engajada: McGrath propõe que a teologia natural contemporânea deve ir além da simples busca por evidências da existência de Deus. Ela deve também inspirar um compromisso com a verdade, a beleza e a bondade, enquanto dialoga ativamente com descobertas científicas, filosóficas e artísticas. Essa abordagem dinâmica visa responder de forma significativa aos desafios do mundo moderno.
Ao concluir o livro, Alister McGrath faz uma reflexão sobre os pontos abordados ao longo da obra e reforça a importância da teologia natural no contexto contemporâneo. Ele encerra com um apelo à integração entre ciência, teologia e experiência humana, destacando como a teologia natural pode enriquecer a compreensão de Deus e do universo. O autor conclui com um tom esperançoso, incentivando teólogos, cientistas e leigos a adotarem uma abordagem aberta e interdisciplinar para explorar as grandes questões da existência. McGrath celebra a teologia natural como uma prática viva e relevante, capaz de inspirar novas gerações a buscar significado e transcendência no mundo ao seu redor, promovendo um diálogo contínuo entre fé e razão.
Teologia Natural é uma obra notável, que oferece uma visão equilibrada entre ciência e fé, evitando os extremos do conflito e do isolamento. O livro se apresenta como uma excelente ferramenta apologética, proporcionando uma abordagem acessível tanto para crentes quanto para céticos, ao ajudá-los a encontrar sentido e relevância na fé cristã. Com uma análise cuidadosa e profunda, McGrath consegue integrar razão e espiritualidade, mostrando como ambos podem coexistir e enriquecer a compreensão do mundo e da experiência humana.