Em 2019 uma pesquisa realizada pela GlobalWebIndex, empresa sediada em Londres, constatou que o tempo gasto pelas pessoas nas redes sociais aumentou quase 60% nos últimos 7 anos. Dos 45 maiores mercados de internet do mundo, o Brasil ficou atrás apenas das Filipinas entre os países onde os usuários passam mais tempo nas redes, com média diária de 225 minutos¹.
O fato é que as pessoas estão mais conectadas. Com a pandemia e as medidas de isolamento social, o número de lives no Instagram, por exemplo, aumentou significativamente. O Twitter, que anos atrás ainda não tinha um grande número de usuários no Brasil, hoje se encontra entre as plataformas mais usadas do país. Essa presença massiva nas redes somada ao fenômeno das polarizações, sejam elas religiosas, políticas ou ideológicas, têm fomentado determinadas práticas cada vez mais presentes nas redes, como linchamentos virtuais, “cancelamento” de pessoas, propagação de notícias falsas e um culto à desinformação.
Há uma sensação, hoje em dia, de que temos acesso a muitos fatos, mas não necessariamente ao entendimento desses fatos, dizia Mortimer Adler. Narrativas têm se sobreposto ao interesse pela verdade e comprometido as relações sociais. Mas estes são apenas sintomas de um problema maior. A sociedade tem passado mais tempo conectada à internet, porém vive o que o filósofo holandês Roel Kuiper descreve como um (irônico) estado de “desconexão” social.
As relações humanas tem carecido do que Kuiper chama de capital moral, “a capacidade de estabelecer conexões e nelas ter preocupação com o outro”, valores que “cimentam a solidariedade entre as pessoas sobre uma disposição de se doarem em nome de amor, fidelidade, afeto e respeito mútuo” (KUIPER, 2019, p. 14, 23). Esta é a condição de possibilidade para uma sociedade mais estável:
A confiança nas instituições de uma sociedade, confiança na sociedade como tal, exige o desenvolvimento de capital moral (…) Esse capital é a condição necessária para o desenvolvimento do que buscamos: uma sociedade estável e bem conectada que pode desenvolver até o bem-estar de muitos (…) Quanto mais rica uma sociedade em termos de capital moral, tanto mais forte será sua capacidade de coesão e tanto mais estará voltada à realização de valores sociais significativos. (KUIPER, 2019, p. 14)
A conexão referida por Kuiper vai para além do tempo gasto nas mídias sociais, diz respeito à importância das relações humanas. O comportamento muitas vezes agressivo e desrespeitoso entre pessoas nas redes sociais, que há poucos minutos sequer sabiam da existência umas das outras e agora trocam ofensas por divergências de ideias, é um bom sinal da carência deste capital moral.
¹BRASIL é 2º no ranking de países que passam mais tempo em redes sociais. Época Negócios, 2019. Disponível em: < https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/09/brasil-e-2-em-ranking-de-paises-que-passam-mais-tempo-em-redes-sociais.html>. Acesso em 13 de julho de 2020.
REFERÊNCIA
KUIPER, Roel. Capital moral: o poder de conexão da sociedade. Trad. Francis Petra Janssen. Brasília-DF: Monergismo, 2019.