Escrito por Anderson Cipriano Lopes, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2023
A revista digital Guiame.com publicou, em 2019, que “66% dos jovens deixam de frequentar a igreja por pelo menos um ano entre 18 e 22 anos”, segundo a pesquisa da LifeWay Research1. Por sua vez, o site Cristãos na ciência expôs uma pesquisa feita pelo Barna Group, que aconteceu da seguinte forma:
O projeto de pesquisa foi composto de oito estudos nacionais nos EUA, incluindo entrevistas com adolescentes, jovens, pais, pastores de jovens e pastores sêniors. O estudo de jovens adultos foi voltado para aqueles que eram frequentadores regulares de igreja durante sua adolescência e explorou as suas razões para a desconexão da igreja depois dos 15 anos de idade. Nenhum motivo foi o determinante para o rompimento entre a igreja e os jovens adultos. Em vez disso, uma variedade de razões emergiu. No geral, a pesquisa descobriu alguns temas importantes que fazem os jovens desconectarem-se da igreja permanentemente ou por um período prolongado de tempo de suas vidas.2
A partir de então, o texto passa a apresentar 6 razões, segundo a pesquisa, pelos quais esses jovens abandonaram a igreja. Contudo, desconfiamos de um motivo que não está presente no texto, porém muito central nessa questão. Christian Smith e seu grupo de pesquisa na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, conduziram um estudo sobre religião entre adolescentes. Sua pesquisa foi publicada no livro Soul Searching. Ele aponta que, sob o ponto de vista sociológico,
as comunidades de fé conseguem um pequeno lugar ao fundo, por um período muito limitado de tempo. Em sua estrutura, o quadro de formação da juventude é dominado por atores mais poderosos e chamativos. Dessa forma (…) [a] maioria dos adolescentes conhece detalhes sobre personagens de televisão e pop stars, porém, muitos são bem vagos quanto a Moisés e Jesus. (SMITH apud BAUCHAM, 2017, n.p.).
Isso se dá pelo fato de muitos pais negligenciarem o mandamento de Efésios 6.4 e mesmo os que buscam cumpri-lo, por meio do culto doméstico, falham em sua meditação bíblica na hora de revelar o assunto principal, i.e., Jesus. Aos filhos são apresentados os personagens bíblicos e as histórias, mas, como disse Nick Roark, “é possível ler uma história, achá-la interessante e ainda assim deixar escapar completamente sua ideia principal” (ROARK; CLINE, 2018, p. 17).
Parte dessa dificuldade acontece por uma deficiência na teologia bíblica. Todavia, como os pais, trabalhadores, em uma rotina apertada, podem suprir essa falta? Devemos esperar que leiam todos os materiais possíveis de teologia bíblica? Isso seria um bom começo, mas até lá nossos filhos devem se contentar com “historinhas” com princípios morais que no fim os deixarão distantes de um relacionamento evangélico com o texto?
Bryan Chapell nos fornece um ótimo recurso que pode nos ajudar a introduzir uma solução para essa lacuna. Em seu livro Pregação Cristocêntrica: um guia prático e teológico para a pregação expositiva, escrito em 1994, ao tratar da Revelação do contexto, o autor nos oferece uma síntese de quatro focos redentores, onde uma passagem bíblica pode possuir um ou mais desses focos dos quais resumimos a seguir.
1. O caráter profético quanto à obra de Cristo
Segundo Chapell: “Algumas passagens profetizam a obra de Deus em Cristo ao fazer uma menção específica de sua vinda pessoal ou da sua obra” (CHAPELL, 2016, p. 298). Essas profecias não estão apenas em livros proféticos. Por exemplo, o Salmo 22 faz várias referências proféticas quando diz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Sl 22.1; Mt 27.46; Mc 15.34), ou “Todos os que me veem zombam de mim; fazem caretas e balançam a cabeça, dizendo: ’‘Confiou no Senhor! Ele que o livre! Salve-o, pois nele tem prazer’” (Sl 22.7-8; Mt 27.39, 43; Mc 15.29; Lc 23.35), ou seja, “outros textos mostram o que Cristo fará ou será, sem fazer qualquer referência específica a ele (…) regras de purificação, os sacramentos, o êxodo etc.” (CHAPELL, 2016, p. 299).
2. O caráter preparatório para a obra de Cristo
Paulo diz aos gálatas que “a lei se tornou nosso guardião para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados pela fé” (Gl 3.24). Ao apresentar a lei, os mandamentos, isto é, um padrão moral bíblico, temos de fazê-lo como Paulo nos ensina. A lei, mais do que um padrão moral, é também uma lente teológica que retrata a necessidade de um Redentor. Algumas passagens bíblicas irão nos preparar, nos revelar a fragilidade da alma, assim como fez com os personagens bíblicos. Dessa forma, Cristo é tanto aquele por meio de quem somos aceitos por Deus por falharmos em tais mandamentos, como aquele por meio de quem recebemos a graça necessária para desenvolvermos nossa salvação no cumprimento de sua lei (Fl 2.12-13).
3. O caráter reflexivo da obra de Cristo
Onde o texto não profetiza, nem faz preparativos para a obra redentora de Cristo, podemos indagar como esse texto reflete a natureza de Deus que motiva a obra de Cristo (CHAPELL, 2016, p. 300). Bryan resume bem onde podemos chegar em um texto que reflete a natureza de Deus:
Ao indagar o que o texto reflete da natureza de Deus que motiva a obra de Cristo, o expositor reúne condições de pesquisar qualquer narrativa, genealogia, mandamento, provérbio, proposição ou parábola para observar o que ele revela acerca da justiça, santidade, bondade, amor compassivo, fidelidade, providência ou livramento de Deus. Esses atributos do caráter redentor de Deus emanam dos textos que podem não fazer referências a Cristo, mas que fazem sentido no julgamento criterioso de Paulo de que “(…) Tudo quanto, outrora, foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4).
4. O caráter resultante da obra de Cristo
Corremos um grande risco de olharmos aquilo que Deus comprou para nós na obra de Cristo na cruz como condição para receber o favor divino. Timothy Keller tem uma seção, em seu livro Igreja centrada, cujo título diz: “O evangelho não são os resultados do evangelho”. Esse alerta é muito importante para o que estamos tratando aqui. Tome como exemplo a oração: elas não ganham o favor de Deus por nossos méritos, nem a medida que oramos é a medida em que somos aceitos por Deus. Pelo contrário, podemos orar porque Cristo nos comprou esse privilégio através do seu sacrifício perfeito, pois “as bênçãos da oração resultam do ministério de Cristo” (CHAPELL, 2016, p. 303). Como bem disse Bryan Chapell, “ao reconhecer que toda a Escritura prediz, prepara, reflete ou resulta do ministério de Cristo, os pregadores mostram o mapa do caminho que os mantêm na trilha rumo ao centro vital da Bíblia, não importa onde viajem em suas páginas” (CHAPELL, 2016, p. 303).
Conclusão
Portanto, aqui estão algumas perguntas que podemos fazer ao texto de forma que cheguemos a um ou mais desses focos redentores:
- O que esse texto reflete de forma direta ou indireta quanto às profecias a respeito do ministério de Cristo?
- O que esse texto reflete quanto à natureza humana que necessita do ministério de Cristo?
- O que esse texto reflete quanto à natureza de Deus que estabelece o ministério de Cristo?
- O que esse texto reflete quanto às bênçãos resultantes do ministério de Cristo?
Podemos concluir que essas perguntas podem nos nortear de maneira introdutória para não falharmos, como pais, em cada breve leitura diária em nossos cultos domésticos, de sermos conduzidos para a beleza desse caminho que Jesus abriu por meio da cruz.
1 66% dos jovens cristãos abandonam a igreja nos anos da faculdade. Guiame.com. 22 jan. 2029. Disponível em: https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/66-dos-jovens-cristaos-abandonam-igreja-nos-anos-da-faculdade.html. Acesso em 12 nov. 2023.
2 Seis razões por que jovens cristãos abandonam a igreja. Cristãos na ciência. 30 mar. 2016. Disponível em: https://www.cristaosnaciencia.org.br/seis-razoes-por-que-jovens-cristaos-abandonam-a-igreja/. Acesso em 12 nov. 2023.
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Bibliografia
66% dos jovens cristãos abandonam a igreja nos anos da faculdade. Guiame.com. 22 jan. 2029. Disponível em: https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/66-dos-jovens-cristaos-abandonam-igreja-nos-anos-da-faculdade.html. Acesso em 12 nov. 2023.
Seis razões por que jovens cristãos abandonam a igreja. Cristãos na ciência. 30 mar. 2016. Disponível em: https://www.cristaosnaciencia.org.br/seis-razoes-por-que-jovens-cristaos-abandonam-a-igreja/. Acesso em 12 nov. 2023.
BAUCHAM JR. Voddie. Família guiada pela fé: faça o necessário para criar filhos e filhas que andem com Deus. Trad. Josaías Cardoso Ribeiro Jr. 1ª. ed. Brasília: Editora Monergismo, 2012. 310 p.
ROARK, Nick; CLINE, Robert. Teologia bíblica: como a igreja ensina o evangelho com fidelidade. Trad. Abner Arrais. 1ª. ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 2018. 174 p.
CHAPELL, Bryan. Pregação cristocêntrica: um guia prático e teológico para a pregação expositiva. Trad. Oadi Salum. 3ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2016. 416 p.
KELLER, Timothy. Igreja centrada: desenvolvendo em sua cidade um ministério equilibrado e centrado no evangelho. Trad. Eulália Pacheco Kregness. 1ª. ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 2014. 463 p.