Escrito por Damaris Ferreira, estudante do Programa de Tutoria Filosófica 2021
Introdução
Em uma era de egoísmos profundos, na qual nos importamos sobretudo conosco, com nossa reputação e bem-estar, em que direcionamos esforços àquilo que nos trará benefícios, dificilmente sobra espaço para incluirmos, guardadas as devidas proporções, Cristo em nossos planos. Remeter a Deus nossa gratidão e adoração não é uma opção a ser considerada, colocamos na conta do nosso suposto alto desempenho todas as conquistas adquiridas. Em nosso coração dizemos: Deus não é suficiente.
Sabemos, com base nas Escrituras, que fomos redimidos por meio da obra de Cristo na cruz. Ele foi entregue por nós e nos reconciliou com o Pai. Antes, inimigos, agora Seus filhos. Estávamos perdidos, condenados, mas Deus já havia providenciado nosso resgate. Fomos libertos a custo de sangue. E qual a finalidade dessa morte senão glorificá-Lo?
Em seu livro O fim para o qual Deus criou o mundo, Jonathan Edwards remonta aspectos em que Deus é glorificado em Sua criação. Para o autor, é evidente que a Sua glória é o fim derradeiro da grande obra da providência, a redenção empreendida por Jesus Cristo.
É Cristo nosso padrão de excelência. Ele é, nas palavras de Edwards, o chefe do mundo moral. E quão distante nosso coração está de tão elevado padrão? Para onde aponta o fim de nossos anseios mais profundos? É certo que toda tentativa humana que descarta Jesus de suas ações, termina em idolatria. O mundo não possui significado à parte de Jesus.
Uma voz a ser obedecida
Por diversos trechos nas Escrituras, vemos Deus repreendendo o povo de Israel quanto ao seu amor aos ídolos. A verdade é que nos vendemos por muito pouco e não nos consideramos idólatras por não estarmos prostrados literalmente a um deus feito por nossas mãos. No entanto, é em nosso coração, onde guardamos e reverenciamos nossos maiores amores. Idolatria é pecado, e podemos dizer com tranquilidade que é a base para os demais. É um perigo iminente do qual não nos atentamos e que nos devora, que leva tudo de nós.
Idolatria é trocar o Deus verdadeiro por um falso deus. É decidir não mais confiar em quem nos criou e nos perdoou quando nos rebelamos e desobedecemos às Suas ordens. Quando depositamos toda nossa confiança nas coisas criadas, supérfluas, secundárias, passageiras, trocamos o Criador pela criatura. Nos devotamos, entregamos nosso coração a elas e exercitamos uma obediência cega. Adorar outros deuses nos faz desobedientes, o oposto do que aprendemos com nosso padrão excelente. Cristo foi obediente ao Pai, até Sua morte.
Há uma voz a ser obedecida, a do Deus criador de todas as coisas. No Éden, Eva se deixou levar pela voz da astuta serpente. É seu papel distorcer qualquer mandamento de Deus. A mulher, que já havia sido instruída quanto às regras do jardim, não considerou obedecê-Lo a despeito de qualquer coisa, mas se deixou levar pela vontade de ser como Ele. Não se deleitou em confiar naquele que a criara, preferiu desobedecê-Lo.
Nossos ídolos nunca estarão satisfeitos, sempre cobrarão por lugares mais altos e, nós, de nenhum modo, seremos satisfeitos neles. Aprendemos com as palavras de Santo Agostinho: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti”1. Fomos criados para Sua glória e nossa satisfação jamais será encontrada à parte do Criador. Se nosso padrão excelente é Cristo, devemos buscar a glória de Deus assim como o próprio Jesus buscou. Foi a partir de Sua obra redentora que fomos restaurados.
Sobre o capítulo 43 de Isaías, Edwards conclui que:
É tudo uma promessa de uma futura, grande e maravilhosa obra do poder e graça de Deus, livrando seu povo de toda miséria e tornando-o sumamente feliz; e depois se declara que o fim de tudo, ou a essência do plano de Deus em tudo, é a própria glória de Deus: “Eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. […] Eu serei contigo. […] Quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. […] Visto que foste precioso aos meus olhos, digno de honra, e eu te amei, darei homens por ti e os povos, pela tua vida. Não temas, pois, porque eu sou contigo. […] Trazei meus filhos de longe e minhas filhas, das extremidades da terra, a todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para minha glória, e que formei, e fiz.2
Não há neutralidade. Se não O glorificamos, nos prostramos em adoração a outros deuses. Se não atribuímos a Deus a glória que lhe é devida, redirecionamos a falsos deuses, nosso louvor. Nossa verdadeira felicidade provém de Deus e, ao nos livrar de toda nossa miséria, Ele é glorificado. Não há salvador além do Senhor. É Ele quem derrama sobre nós Sua graça e nos chama de Seus filhos, obra de Suas mãos. Não há amor maior que este e devemos responder a isso com obediência. no Cristo, o chefe do mundo moral, onde encontraremos graça para lutar contra o espírito do nosso tempo, contra os desejos impostos, por meio Dele fomos libertos.
Não é difícil entender por que essa libertação é uma condição fundamental para o combate à idolatria. […] a razão mais fundamental pela qual a idolatria acontece é que, por ocasião da queda em pecado, houve um redirecionamento de nosso senso de adoração — de Deus para nós mesmos. Criamos ídolos, fundamentalmente, porque somos escravos de nós mesmos e vivemos para a satisfação de nosso EU. Isso significa que, a menos que sejamos libertos dessa condição, a nossa vida se resumirá a um constante serviço aos ídolos, e nada poderemos fazer contra eles. Libertar-nos desta condição, foi exatamente um dos objetivos da obra de Cristo. “Ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co 5.15).3
Conclusão
Edwards mostra significado, sentido e objetivo à da existência a partir do próprio Deus. Ele é a fonte de significado, é o que nos orienta no mundo, é sobre quem o indivíduo constrói a sua vida, e sobre quem as sociedades constroem seus ideais. Retire-se isso, e nosso horizonte de significado é reduzido àquilo que julgamos ser capazes de fazer, de pensar, de sentir. Quando vemos o padrão de beleza, de verdade, moralidade, todos firmados naquilo que não pode dar firmeza, constituímos uma imagem idólatra, porque é dada por nós, e não pelo verdadeiro doador de significado. “Pois, todas as coisas vêm Dele, existem por meio Dele e são para Ele. A Ele seja toda a glória para sempre! Amém”4.
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1 AGOSTINHO. Confissões. Vol. 1. Tradução de Frederico Ozanam. Rio de Janeiro: Petra, 2020, p. 19.
2 EDWARDS, Jonathan. O fim para o qual Deus criou o mundo. Tradução de Almiro Pisetta. São Paulo: Mundo Cristão, 2017, p. 81.
3 FONTES, Filipe. Idolatria do coração: um inimigo ignorado. São Paulo: Editora 371, 2019, p. 78.
4 Cf. Romanos 11.36.
Referências Bibliográficas
AGOSTINHO. Confissões. Vol. 1. Tradução de Frederico Ozanam. Rio de Janeiro: Petra, 2020. 496 p.
BÍBLIA SAGRADA. Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016. 1584 p.
EDWARDS, Jonathan. O fim para o qual Deus criou o mundo. Tradução: Almiro Pisetta. São Paulo: Mundo Cristão, 2017. 144 p.
FONTES, Filipe. Idolatria do coração: um inimigo ignorado. São Paulo: Editora 371, 2019. 81 p.