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O cético religioso

Por que as pessoas precisam de religião em pleno século XXI, tempo em que a ciência, o progresso e o conhecimento empírico tornaram a religião algo tão sem valor? Por que ainda hoje as pessoas creem em coisas tão ultrapassadas? Timothy Keller tratou dessas e outras questões no livro Deus na era secular: como céticos podem encontrar sentido no cristianismo.

Nascido em Pensilvânia, EUA, Timothy Keller estudou na Bucknell University, no Gordon-Conwell Theological Seminary e no Westminster Theological Seminary. Pastor na Redeemer Presbyterian Church, Manhatan, é autor best seller do New York Times. Muitas de suas obras já foram publicadas no Brasil, como Fé na era do ceticismo, A cruz do Rei, Caminhando com Deus em meio a dor e o sofrimento, Como integrar fé e trabalho, Oração e Ministérios de misericórdia.

Publicado originalmente em 2016, e lançado no Brasil em 2018, Deus na era secular continua, de certa forma, o trabalho desenvolvido em Fé na era do ceticismo. Se neste o seu foco era oferecer argumentos em favor da existência de Deus e do particularismo cristão, agora suas atenções se voltaram de maneira mais refinada para a esfera pública. Sua tese básica em Deus na era secular é de que a visão de mundo cristã, mais do que simplesmente um conjunto de doutrinas teológicas, fornece respostas muito mais coerentes com a realidade e a experiência humana do que a cosmovisão secular.

Por este termo Keller se vale da aclamada obra A secular age [Uma era secular], do filósofo canadense Charles Taylor. Três acepções são elencadas para o termo “secular”: 1) sociedade secular, em que Estado e religião não se misturam, isto é, nenhuma religião particular deve ser privilegiada; 2) pessoa secular, alguém agnóstico quanto a existência de Deus, ou seja, não sabe dizer ao certo de Ele existe ou não, ou se é possível algum tipo de conhecimento metafisico, e 3) era secular, um tipo de “espírito da época”, onde a ênfase das preocupações e anseios humanos se voltam somente para o presente, desconsiderando qualquer noção de eternidade ou vida futura (KELLER, 2018, p. 13). Keller emprega o termo nas suas segunda e terceira acepções.

Uma das principais características da visão de mundo secular é a alegada dicotomia entre razão e fé. Nesse sentido, fé é sinônimo de infantilidade intelectual. Fazendo uma alusão ao texto bíblico de Oseias, as pessoas creem por falta de conhecimento. Crenças religiosas, assim, nada mais são do que desculpas emocionais para tapar os buracos da ignorância. À medida que a pessoa se desvencilha das correntes metafísicas e sai das sombras da caverna do mito, a religião se torna uma hipótese desnecessária. Keller argumenta, entretanto, que esse pensamento, é, ironicamente, religioso também. A pretensão de autonomia da razão em detrimento da religião é, intrinsecamente, um ato de fé, pois a razão jamais caminha sozinha:

O cristão usa a razão e a fé para chegar a suas crenças do mesmo modo que seu semelhante secular usa a razão e a fé para chegar às dele. Os dois olham para as mesmas realidades, presentes na natureza e na vida humana, e buscam um modo de explicá-las por meio de um processo que seja racional, pessoal, intuitivo e social. a razão não opera sozinha nem pode. A secularidade contemporânea, portanto, não é a ausência de fé, mas em vez disso se baseia em todo um conjunto de crenças, entre as quais há diversas hipóteses altamente contestáveis, acerca da natureza da prova e da própria racionalidade (KELLER, 2018, p. 61)

Agostinho bem disse sobre a inquietude do coração enquanto longe do Criador. O homem, criado à imagem e semelhança de Deus, é adorador por natureza e, portanto, religioso. A questão é quem ele adora, se o Deus que o criou ou um deus criado por ele mesmo. A pretensa autonomia da razão é justamente aquilo que a aprisiona. A submissão da razão ao senhorio do Criador é exatamente aquilo que a liberta e lhe confere sentido. O desespero do homem diante da sua incapacidade de viver por si mesmo só encontra descanso na esperança cristã.


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Referência:

KELLER, Timothy. Deus na era secular: como céticos podem encontrar sentido no cristianismo. Trad. Jurandy Bravo. São Paulo: Vida Nova, 2018.