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Resenha: O pastor como teólogo público

Resenha escrita por Mariana Novais, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2021


VANHOOZER, Kevin J.; STRACHAN, Owen. O pastor como teólogo público: recuperando uma visão perdida. Trad.: Marcio L. Redondo. 1 ed. São Paulo: Vida Nova, 2016.


O livro O pastor como teólogo público: recuperando uma visão perdida foi escrito por Kevin J. Vanhoozer e Owen Strachan. Vanhoozer é professor de teologia, autor e organizador de diversos livros. Strachan, por sua vez, também é professor de teologia, além de escritor e diretor de um centro de engajamento evangélico. O livro conta ainda com o auxílio de doze colaboradores, todos eles teólogos. Foi originalmente publicado em 2015, chegando ao Brasil no ano seguinte. Pretende refletir sobre a segmentação imposta entre muitos evangélicos, distinguindo vida pastoral e estudo teológico como independentes um do outro. Os autores mostram que a única solução para a renovação de nossas igrejas é resgatar o verdadeiro significado do que é ser não apenas um pastor, mas um pastor-teólogo público.

Antes de iniciar os capítulos do livro oficialmente, Vanhoozer introduz o tema na introdução. Ele mostra o problema em perder a visão do pastor como teólogo público, as causas que levaram a isso e sua perspectiva empara resolver o problema. A primeira parte do livro, composta pelos dois primeiros capítulos, tem como tema a Teologia Bíblica e a Teologia Histórica. O primeiro capítulo, escrito por Strachan, propõe interligar o ofício pastoral com o ofício  exercido por profetas, sacerdotes e reis no Antigo Testamento e, como Jesus os desempenhou-os na nova aliança estabelecendo o paradigma pastoral. No segundo capítulo da obra, podemos encontrar a historiografia do ministério pastoral, desde a igreja antiga, perpassando o período medieval até chegar nos dias de hoje, desde a contribuição do monasticismo até a ignorância de alguns movimentos, como o liderado por Charles Finney.

Na segunda parte, toda desenvolvida por Kevin Vanhoozer, temos os capítulos três e quatro. No primeiro, Vanhoozer discursa sobre o propósito do pastor-teólogo. A principal mensagem deste capítulo é o aspecto indicativo da teologia. Por indicativo temos aquilo que é. O pastor-teólogo tem como papel indicar aquilo que já é em Cristo a uma comunidade de homens e mulheres (p. 147). O segundo ponto é a imperatividade do evangelho, que ordena como devemos agir com base naquilo que já é (p. 160). No quarto e último capítulo, o autor aborda as práticas do teólogo. Quatro práticas que moldam o caráter do pastor-teólogo como também da sua comunidade eclesiástica: evangelismo, catecismo, liturgia e apologética. Essas práticas têm como objetivo proclamar, ensinar, celebrar e demonstrar, respectivamente, aquilo que encontramos em Cristo. 

Na conclusão do livro encontramos cinquenta e cinco teses a respeito do pastor como teólogo público. Além disso, podemos encontrar entre os capítulos o que os organizadores do livro chamam “Perspectivas pastorais” com pequenos artigos escritos por teólogos acerca de diversos temas, como, por exemplo, tecnologia, morte e leitura. A leitura de todo o livro é bastante enriquecedora e esses artigos servem para complementar e mostrar a necessidade de ser um pastor-teólogo público. É possível perceber que, para além dos pastores cumprirem o chamado biblicamente, essa é a única maneira de termos igrejas saudáveis produzindo teologia saudável para além dos muros eclesiásticos.

A leitura desta obra é extremamente necessária, não apenas para aqueles que desejam desempenhar o papel de pastor-teólogo, mas para toda a igreja de Cristo. Ser teólogo público é o chamado de todo cristão. Isso não significa que todos devem estudar teologia de maneira formal, mas que todos devem se debruçar sobre a Palavra de Deus, e, consequentemente, aprofundar seus estudos com a ajuda de outros livros. Estudar teologia, ao contrário do que muitos pensam, não esfria o “crente”, mas o aproxima-o daquele que o criou e decidiu se revelar, o próprio Cristo. A teologia nos auxilia na função de exercer nossos estudos, profissões e papéis na sociedade, como nos lembra a obra aqui resenhada.

Um dos aspectos brilhantes deste livro é sublinhar a importância do corpo eclesiástico. Como afirma Vanhoozer, “mentes teológicas pertencem a corpos eclesiásticos.” (p. 15). De nada contribui aquele que se propõe a se aprofundar nos estudos teológicos se não pertencer a uma comunidade de fé. Talvez o defeito deste livro seja não tratar da contribuição feminina à igreja ou como auxílio aos mestres da congregação. Excluindo as páginas brancas, O pastor como teólogo público se mostra como uma leitura obrigatória a todos os evangélicos brasileiros. Certamente, uma grande contribuição no campo da teologia pública.