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Resenha crítica | Pregação: comunicando a fé na era do ceticismo

Escrita por Júnia Lacerda de Castro Bretas, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2022


KELLER, Timothy. Pregação: comunicando a fé na era do ceticismo.  Tradução de A. G. Mendes. 1ª ed. São Paulo, SP: Vida Nova, 2017. 288 p.


A obra Pregação: comunicando a fé na era do ceticismo, escrita pelo respeitável teólogo, pastor e escritor Timothy Keller, conhecido por Tim Keller, é um roteiro para auxiliar pastores e leigos na nobre missão de pregar o Evangelho. O livro apresenta agradecimentos, prólogo, introdução e divide-se em três partes, compreendidas em sete capítulos. É rico em notas explicativas e conclui com um apêndice que abrange uma mensagem expositiva. No prólogo, o autor elucida que a boa pregação estará sujeita ao bom pregador, quanto ao preparo e sua habilidade de oratória. Entretanto, a mensagem verdadeiramente edificante decorrerá da poderosa ação do Espírito Santo.

Na Introdução, Keller apresenta três níveis diferentes do ministério da Palavra fundamentados na Bíblia. O nível 1 é destinado aos cristãos que conhecem, aplicam e transmitem a Palavra mediante aconselhamentos e admoestações, assim como o apóstolo Paulo orienta aos seus irmãos em Colossos: “Que a palavra de Cristo habite ricamente em vocês. Instruam e aconselhem-se mutuamente em toda sabedoria” (Colossenses 3:16a). Já o nível 2 possibilita ao crente divulgar a verdadeira fé cristã em palestras, discussões, pequenos grupos, fóruns, artigos, entre outros. Aos pastores que possuem um aprofundamento bíblico e o dom de expor as Escrituras para públicos maiores, é dedicado o nível 3. Este consiste no ministério público de pregação — o sermão, e, portanto, “é uma forma especial que Deus fala ao seu povo e o edifica” (p. 32). 

A primeira parte da obra, denominada Servindo à Palavra, refere-se aos três primeiros capítulos do livro, nos quais Keller orienta sobre os tipos e alvos da pregação cristocêntrica. No primeiro capítulo, o autor esclarece que o objetivo principal do sermão consiste em transmitir a Palavra com sua devida autoridade. Para tal intuito, defende dois tipos de pregação: a expositiva e a temática. A pregação expositiva é embasada em um texto da Escritura onde são retirados os principais pontos, aliados à doutrina cristã, que apontam para Cristo. O sermão temático ou tópico pode ser evangelístico, catequético, festivo ou profético. Nesse modelo, vários textos da Escritura são consultados. No entanto, uma forma de pregação não exclui a outra, pois um pastor analisa outras passagens para aprofundar um tema. “Portanto, a pregação expositiva pode ser parcialmente tópica” (p. 41). 

No capítulo dois, Keller reforça a importância de anunciar a mensagem da Salvação e mirar para Cristo. Para isso, o bom pregador, ao escolher o texto de um sermão, saberá descortinar o Evangelho em todo cânon bíblico. Além disso, o autor cita dois inimigos do Evangelho que devem ser conhecidos por pastores. Um é o legalismo — polemiza sobre um amor condicional de Deus pelas criaturas, e o outro, o antinomianismo — afirma que o homem pode se relacionar com Deus sem obedecer às suas leis. 

 Keller termina a primeira parte do livro destacando a importância de e como pregar Cristo em toda Escritura. Igualmente, em uma boa pregação, devem ser observadas como cada parte e tema da Escritura apontam para Cristo e a Salvação! Com muita sabedoria, o autor escreve aos pastores: “Ao pregar, você pode passar do evento da graça para a obra de Cristo” (p. 98).

Na segunda parte do livro — Alcançando as Pessoas — Keller instrui os leitores, ao falar a uma sociedade cada vez mais avessa à fé cristã. Com esse intuito, o autor analisa, no capítulo quatro, seis práticas utilizadas pelo pregador, de modo que seu sermão dialogue com uma cultura e atinja as pessoas: (1) usar vocabulário acessível; (2) recorrer a  nomes conhecidos, para fortalecer os argumentos; (3) assimilar e responder às indagações dos céticos; (4) apresentar os temas bíblicos na certeza de desafiar o secularismo; (5) utilizar pressupostos para atingir os pontos de pressão da cultura; (6) convidar crentes e não crentes a buscar estímulo no Evangelho. 

No capítulo cinco, Keller desafia o pregador a se preparar para falar a uma sociedade secularizada, representada por um emaranhado de crenças que precisam ser debatidas à luz da Palavra de Deus. Mentes cristãs diferem das secularizadas, porém “todo cristão que vive na modernidade tardia, é de algum modo, moldado por suas narrativas” (p. 158). Tais narrativas são falíveis e precisam ser conhecidas por pregadores, como, por exemplo: (1) narrativa da racionalidade — o mundo natural é a única realidade; (2) narrativa histórica — a história progride sem o controle divino; (3)  narrativa da sociedade — o indivíduo é livre para viver como quiser, porém, sem afetar o outro; (4) narrativa da moralidade — moralismo exagerado que difunde leis opostas as de Deus; (5) narrativa da identidade — personalidade revelada por desejos e sonhos de cada um. 

O capítulo seis é dedicado à arte de pregar ao coração dos ouvintes. Para alcançar essa realidade, Keller cita duas maneiras possíveis defendidas pelo autor Jonathan Edwards. Na primeira, o pregador deve acreditar em sua verdade, e, na segunda, ele ajuda os ouvintes na concepção de “ideias sensíveis”. Outro aspecto é a contextualização das mensagens, pois as narrativas contemporâneas tendem a nortear os desejos e as dúvidas interiores do ouvinte. Ademais, outros aspectos são sugeridos para os pastores atingirem o coração de suas ovelhas, tais como: “pregar com afeições verdadeiras, de forma imaginativa, maravilhada, memorável, cristocêntrica e prática” (p. 203).  

Em demonstração do Espírito e de Poder é a última parte e relata que o pregador deverá convidar ao Espírito Santo a operar nele e através dele. Para exemplificar, Keller menciona o apóstolo Paulo e o pastor George Whitefield (séc. XVIII), que, ao falarem de Cristo, o exaltavam e externavam  seu amor pelas pessoas, e depois, demonstravam “quem eles eram — sua graça espiritual e seu caráter” (p. 234). Keller lembra ainda que o ministro tem três atribuições: pregar, pastorear e liderar. O autor, então, sugere um sermão organizado em três “textos”: “o texto bíblico, o contexto dos ouvintes e o subtexto do seu próprio coração” (p. 239). Esse último significa a mensagem por trás da mensagem, onde o pregador identifica a presença do Espírito. 

No apêndice, Keller propõe quatro diretrizes para um sermão expositivo robusto: (1) compreender o objetivo do texto e selecionar a ideia principal; (2) escolher o tema coerente com essa ideia e com os ouvintes; (3) elaborar um esboço conforme o tema e o texto bíblico; (4) usar ilustrações, imagens, argumentos e outros, para concretizar cada ponto da mensagem e, principalmente, para fazer a aplicação prática. 

Para quem deseja comunicar o Evangelho, em qualquer um dos três níveis, esse livro é uma boa opção. Embora apresente uma linguagem inteligível, Tim Keller demonstra domínio, conhecimento profundo e técnica para pregar o Evangelho. Um livro que edifica e encoraja aqueles que desejam aconselhar um irmão em Cristo, fazer publicações cristãs e/ou até mesmo exercer o ministério eclesiástico. Mais importante ainda, pregar as boas novas a todas as criaturas!