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Resenha: Introdução à cosmovisão cristã

Escrita por Darli Nuza, estudante do Programa de Tutoria – Turma Essencial 2021

GOHEEN, Michael W.; BARTHOLOMEW, Craig G. Introdução à cosmovisão cristã: vivendo na intersecção entre a visão bíblica e a contemporânea. Trad. Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2016.

O que nossas igrejas têm a dizer sobre a vida pública e a cultura – política, economia, produção acadêmica, formação escolar, artes, trabalho, lazer, dentre outros? Com essa reflexão, os autores de Introdução à cosmovisão cristã, Michael Goheen e Craig Bartholomew, iniciam o prefácio, seguido de nove capítulos sobre Cosmovisão¹, suas configurações e implicações. Com esse livro, os autores desejam apontar a importância de se conhecer a cosmovisão de uma sociedade, perceber seus déficits e a distância que se encontra da narrativa conduzida por Deus.

Goheen é teólogo bíblico com foco em missiologia. Bartholomew é exegeta e também estudioso da teologia bíblica. As experiências dos autores se complementam e apresentam uma escrita rica e acessível sobre o tema. Inicialmente, os autores tratam questões pertinentes ao termo, seu nascimento e algumas de suas associações com filosofias humanistas. Alertam também sobre a implicação de se ter uma cosmovisão solitária, individualista, dizendo que “estudos de cosmovisão precisam ser cada vez mais ecumênicos […] implica diálogo com cristãos de outros lugares, de outras épocas e de outras tradições confessionais” (p. 18).

Neste texto, o leitor é exposto à história do termo e suas definições, como também suas relações com a narrativa maior: a história da redenção. No decorrer do livro, a teologia bíblica é explicitamente colocada como base para pensarmos onde as crenças fundamentais do nosso coração devem estar ancoradas: na narrativa bíblica. Assim, os autores passam a descrever não só o termo, mas o que seria uma cosmovisão bíblica, baseada em um evangelho que deve ser verdade pública e não somente uma experiência religiosa individual. Logo, a cosmovisão da igreja também, deve ser uma narrativa orientada e baseada na Bíblia. Uma cosmovisão pública, levando em consideração o senhorio de Cristo em todos os aspectos, afinal, “no drama bíblico, Jesus morre pelo mundo inteiro, por cada parte da vida humana, pela totalidade da criação não humana (pág. 96)”, publicamente.

Sendo assim, descrevem as lentes pelas quais devemos olhar o mundo, a saber: a criação, o pecado e a restauração. Ou seja, a narrativa bíblica como base fundadora de qualquer percepção que venhamos ter da/sobre a vida. Alertam também a respeito da implicação de tentarmos usar as lentes separadas ou fragmentadas: uma cosmovisão bíblica distorcida. Nota-se, aqui, o quão importante atentar-se para uma teologia bíblica que não abdica, em nenhum momento, da completude que há de Gênesis à Apocalipse. Abrir mão disso é fragmentar o tecido e colocar a perder toda a trama conectada, furando-a. E, claro, isso desembocará em uma cosmovisão deficitária.

Então, nosso papel na narrativa bíblica é encarnar a boa notícia de que Deus está restaurando a criação. Esse testemunho encarnacional, será sempre contextual, ele tomará forma e será moldado em um contexto cultural específico, de acordo tanto com a época quanto com o lugar em que Deus nos coloca (pág. 109). No entanto, é preciso conhecimento e avaliação do contexto cultural, visando identificar oportunidades e perigos que cada cenário dispõe. E é sobre isso que os autores explanam a partir do capítulo 5. Novamente, trazem dados históricos sobre a narrativa ocidental e as raízes e o crescimento da modernidade.

O cerne dos capítulos 5, 6 e 7 é ajudar a descobrir o “credo oculto’’ – a cosmovisão – que fundamenta a cultura ocidental (pág.111). Por exemplo, destacam a mistura medieval do humanismo clássico com o evangelho, mostrando os problemas que acarretam quando narrativas antagônicas se misturam e fazem suas concessões. Após esse levantamento histórico, trazem também as condições atuais do século 20 e 21: a modernidade tardia, as conquistas e a decadência do humanismo liberal.  Aumento de problemas sociais e econômicos, psicológicos, degradação ambiental, pobreza, dentre outros (pág. 159).

Como convite a conhecer nosso contexto, os autores escrevem o capítulo 7 explanando sobre quatro pontos que precisamos discernir com clareza, sobre nosso contexto: o surgimento da pós modernidade, o consumismo e a globalização, o renascimento do cristianismo no hemisfério sul e o ressurgimento do islamismo. A apresentação destes temas nos leva a pensar a profundidade e o resultado da Queda sobre todos as áreas e seus aspectos. E como a igreja é chamada a viver nessa encruzilhada, na intersecção do drama das Escrituras com as narrativas de nossa cultura (pág. 189)? 

Com esta questão, caminhando para o final, os autores escrevem o capítulo 8 e 9 apontando duas verdades essenciais:

“Jesus Cristo é o Criador e Redentor das coisas, controla toda a história e a conduz para o fim que determinou. A segunda verdade é que a salvação bíblica é abrangente em seu alcance e restauradora em sua natureza: o propósito de Deus na salvação é restaurar a totalidade da vida da humanidade no contexto de uma criação renovada.” (pág. 91)

Se acreditamos nisso e nesse fim restaurado, precisamos dar testemunho do senhorio de Cristo sobre todas as coisas. Temos uma missão. Os autores nos convidam a empenhar no testemunho acerca do reino vindouro. A narrativa continua após a Queda e suas reverberações e isso implica nossa atuação como missionários nesse enredo.

Nesse viés, o capítulo nove traz exemplos práticos sobre a vida do cristão nessa intersecção e algumas áreas da vida pública. Dentre muitas, os autores apresentam seis áreas como exemplo: negócios, política, esportes e competição, criatividade e arte, mundo acadêmico e educação. 

Uma carta de estímulo fecha esta obra nos lembrando que: 1. Não somos enviados ao mundo sozinhos e sem apoio humano; 2. Nosso testemunho não pode acontecer de forma isolada, precisamos crescer juntos como corpo; 3. Precisamos permanecer em Cristo pois, somente uma espiritualidade pujante pode nos sustentar em nossa tarefa e; 4. Precisamos entender que nosso testemunho é, primordialmente, uma obra do Espírito de Deus. Deus está trabalhando e seus propósitos serão alcançados.

Este é um livro que oferta no seu conteúdo e em sua composição/linha de pensamento os mesmos temas: criação, queda e restauração. Uma leitura acessível e estimuladora que mostra os desafios de alinhar as pressuposições que sustentamos sobre o mundo com a verdade bíblica. Um convite à análise do contexto e dos compromissos do nosso coração dentro da narrativa divina, e claro, como isso pode reverberar nas mais diversas áreas da vida e no crescimento do Reino. 


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1.  “Uma cosmovisão é um compromisso, uma orientação fundamental do coração, que pode ser expresso como uma narrativa ou em um conjunto de pressuposições (suposições que podem ser verdadeiras, parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas) que sustentamos (conscientemente ou subconscientemente, coerente ou incoerentemente) sobre a constituição básica da realidade e que fornece o fundamento sobre a qual vivemos, nos movemos e existimos” (pág. 45).