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Resenha: Sabedoria e sábios em Israel

Escrita por Cahê Roberto da Silva Veloso, estudante do Programa de Tutoria Filosófica 2023


LÍNDEZ, José Vílchez. Sabedoria e sábios em Israel. Tradução José Benedito Alves. 3 ed. São Paulo, SP. Edições Loyola, 2014. 272 p.


O livro Sabedoria e sábios em Israel foi escrito pelo teólogo e filósofo José Vílchez Líndez. O autor, de forma muito organizada e cuidadosa, faz uma excelente contribuição para o estudo dos conceitos de sábio e sabedoria. O livro é dividido em onze capítulos, aproximando o leitor, de maneira muito minuciosa, ao mundo dos sábios antigos de Israel.

No início, usando exemplos de povos que rodeavam Israel, Líndez é intencional ao mostrar que a sabedoria é mais antiga que Israel. O autor aponta vários conteúdos sapienciais de povos no Oriente Próximo, Egito e Mesopotâmia, por exemplo, mostrando que Israel não estava livre das influências estrangeiras, mas se alimentava delas de maneira positiva.

Além disso, também é de interesse do autor explicar ao leitor como era a sabedoria de Israel e quais eram suas fontes principais.  Nesse sentido, Líndez aponta o lar, a escola, a experiência, o intercâmbio, a tradição, a reflexão, o diálogo e o debate como formas e locais onde a sabedoria era exercida, aprendida e ensinada em Israel.

Ademais, percorrendo a Sagrada Escritura exaustivamente, o autor analisa diversas passagens bíblicas onde aparecem os termos sábio e sabedoria e afirma que “apenas se pode chamar sábio aquele indivíduo que é perito em algo útil na vida” (p. 58). Esta análise propõe a ideia que, no decorrer do tempo, o termo sábio também foi entendido como justo, o que, segundo o autor, aconteceu de forma mais intensa no final da época testamentária.

De maneira brilhante, o autor aponta que a sabedoria antiga considera a experiência humana como medida de todas as coisas, afirmando que “geralmente, no mundo sapiencial, o ponto de partida e o de chegada são o mesmo: o homem. A experiência humana é fonte e origem da sabedoria” (p. 60). Líndez aponta que o homem é essencialmente um ser religioso, mas essa religiosidade não colocava Deus como início, fim e nem objetivo dessa religiosidade.

Uma vez determinado o que se entende por sabedoria e sábio, Líndez faz também uma análise de livros específicos da Bíblia, alguns canônicos, outros, deuterocanônicos, a saber: Provérbios, Sirácida, , Eclesiastes e o Livro da Sabedoria. O autor faz um estudo sobre a composição, estrutura e cita pontualmente alguns problemas que ele enxerga nos livros ou na sua interpretação. É uma contribuição muito valorosa, afinal, o autor traz uma variedade de temas nos livros citados, a importância de cada um, faz interessantes paralelos com a atualidade e procura deste o todo, até em passagens específicas, encontrar e apontar argumentos que destacam tanto a sabedoria quanto o sábio.

No livro de Provérbios, Líndez aponta uma variedade de formas e de temas. O autor considera o livro como uma coleção de coleções e o qualifica como “o mais representativo dos sapienciais bíblicos” (p. 65). Para ele, o que torna o livro representativo é o seu conteúdo refinado e, ao mesmo tempo, simples, repleto de sabedoria popular e o que ele chama de sabedoria da escola, que, segundo o autor, era “um lugar privilegiado do cultivo da sabedoria” (p. 33).

Em sequência, o autor estuda e analisa a sabedoria antiga e o Sirácida (Eclesiástico), falando também sobre seu autor, Jesus Ben Sirac. Líndez faz uma análise bem parecida com a feita em Provérbios, apontando sua composição, estrutura e variedade, tanto de temas quanto de formas. Fato interessante é que, para Líndez, “é estranho que um livro como o de Jesus Ben Sirac não tenha sido incluído no cânon dos livros sagrados” (p.131). 

Em seguida, No livro de , o autor faz uma análise diferente dos demais. Líndez não busca tratar tão pontualmente sua composição e estrutura, tão pouco sua variedade de formas e temas. Aqui, Líndez é intencional em percorrer toda a narrativa do livro e da história de Jó. O autor considera como o livro mais difícil dos sapienciais estudados na obra, apontando que “sua linguagem é altamente poética; em torno do tema, singular, giram e giram longuíssimos e monótonos monólogos” (n.p.). 

Ao analisar o livro de Eclesiastes, o autor retoma sua forma de estudar e analisar a sabedoria antiga junto a um livro, como fez em Provérbios e em Sirácida. Neste capítulo, Líndez é intencional em se aprofundar mais nos ensinamentos do livro, apontando, por exemplo, o temor de Deus e vários aspectos positivos no ensinamento de Eclesiastes. No final deste capítulo, de maneira muito interessante, o autor aponta o quão atual é o livro de Eclesiastes, como ele analisa criticamente a realidade e sua afinidade com o homem contemporâneo.

O último livro analisado pelo autor é o Livro da Sabedoria. Após analisar sua canonicidade, suas influências e sua unidade, o que chama atenção é o destaque que o autor dá à importância doutrinal do livro. Líndez afirma que o livro “é uma releitura do Antigo Testamento feita por um judeu da diáspora no alvorecer da era cristã” (p. 259). O autor destaca que no, Livro da Sabedoria, “o crente descobre a presença de Deus em todas as reviravoltas da sua vida, e aprende que lhe fala, por meio de todos os acontecimentos, palavras de alento e esperança” (p. 259), reafirmando seu destaque ao conteúdo doutrinal do livro. No último capítulo, o autor encerra seus argumentos analisando o sábio ao longo do tempo, apontando, por exemplo, que a sabedoria é uma qualidade positiva e o sábio é um homem de experiência. Líndez também destaca a concepção moderna do sábio e faz um interessante paralelo entre o sábio antigo e o sábio moderno.

Em suma, o livro Sabedoria e sábios em Israel procura aproximar o leitor contemporâneo ao conceito sapiencial do povo de Israel. É uma obra relevante, relacionada à sabedoria e ao sábio, apontando o significado dos termos, desde os povos que antecederam Israel até a atualidade. Trata-se de um livro de fácil leitura, com destaque para a ótima análise dos livros sapienciais, apontando com rigor a estrutura, variedade de formas, composição e ótimos paralelos com a atualidade. Assim, o livro contribui para um entendimento de que a sabedoria de Israel é a única que tem Deus como fonte de sua revelação, sendo uma sabedoria que vem Dele e aponta para Ele, o que a difere das demais, que tinham no homem o seu início e fim. 


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