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O Drama da Doutrina para crianças: A urgência do discipulado infantil

Escrito por Ana Ester Correia, estudante do Programa de Tutoria 2020 – Turma Avançada


INTRODUÇÃO

O ensino bíblico para crianças é um dos pilares para a formação do seu caráter moral e espiritual. O ministério infantil que não é conduzido por esse princípio, tende a formar seres humanos perdidos em seus questionamentos, pois não passaram pelo verdadeiro processo de redenção.

Quando Kevin Vanhoozer dedica seus esforços para escrever a obra “O Drama da Doutrina”, ele enfatiza mais de uma vez que a doutrina é responsável por dar ao discípulo a direção para entender quem Deus é e como viver para a Sua glória. Apresentar isso à criança desde o início vai fundamentar os seus passos na fé em Cristo, vivendo para glorificar a Deus desde seus primeiros anos de vida, pois a cada dia encontrará o seu propósito (cf. Provérbios 22.6).

É necessário, portanto, desenvolver o ensino da doutrina para crianças considerando alguns fatores trabalhados por Vanhoozer (2016). Primeiro, é essencial compreender do que se trata a metáfora do drama da doutrina, seguido pelo entendimento de quem é o sujeito para o qual estamos direcionando o ensino. Por fim, uma possibilidade do discipulado com crianças a partir da metáfora de Kevin Vanhoozer pode ser pensada, refletindo sobre essa prática educativa na vida da criança.

1. O DRAMA DA DOUTRINA: FUNDAMENTOS

A intenção de Vanhoozer (2016) ao sistematizar essa metáfora em um livro está, entre outras coisas, no interesse em explicar o que significa, na prática, o Sola Scriptura. Por entender que as pessoas entendem essa expressão de forma literal, ele se dedica a explicar que “apenas as Escrituras” se trata da autoridade suprema da Bíblia para a teologia cristã. Os reformadores entendiam que as Escrituras são autoridade suprema na teologia, mas não a sua única fonte.

A tradição, por exemplo, é algo bíblico (cf. 1 Coríntios 11.23a), não pode ser simplesmente ignorada em nome de uma cultura ou qualquer outra mudança do tempo em si. De acordo com Vanhoozer (2016) foi por causa da tradição ao longo dos séculos que hoje temos as Escrituras em nossas mãos, porque os ensinamentos de Cristo foram sendo transmitidos até serem sistematizados na forma escrita.

Entendendo a infalibilidade das Escrituras, chega-se à doutrina que agrupa em si os princípios fundamentais da Palavra de Deus a serem transmitidos e ensinados. Hill (2018) aponta como Vanhoozer foi desenvolvendo a ideia de que o Evangelho é teodramático, no sentido em que Deus é o autor, aquele que tem o lugar de fala, e diz por meio da Palavra o que espera do seu povo. De acordo com Hill (2018),

Vanhoozer chacoalhou o pensamento evangélico acerca da Escritura no exato momento em que este poderia ter calcificado. Insistiu que os evangélicos estavam certos em manter a autoridade da Escritura em alto conceito. Mas foi igualmente firme na defesa de que Deus faz muitas coisas com a Bíblia. Deus estimula o lamento, incita à adoração, insta ao arrependimento, fere o orgulho e anuncia perdão e nova vida. Obviamente, a Escritura também traz declarações de verdade a ser cridas, mas isso não é tudo que ela faz (HILL, 2018).

A doutrina, portanto, é o meio pelo qual a igreja saberá como agir diante do mundo e para a glória de Deus, pois para saber se ela está atenta às Escrituras, é só observá-la em ação. Mas antes disso, é necessário compreendê-la em suas múltiplas formas de texto e, aqui, entra o papel da teologia e do teólogo. É possível observar, a partir de Vanhoozer (2016), que existe um padrão nas Escrituras que é compreendido quando é exposto à luz da metáfora da dramaturgia: mostrando as Palavras de Deus em todos os seus atos: criação, queda e redenção.

A ideia da dramaturgia é essencial porque coloca Deus no seu lugar de autor: falando e se comprometendo com aquilo que ele fala. E não apenas isso, Ele em toda a sua glória, escolheu seres humanos para participar desse teatro. Vanhoozer (2016) apresenta as Escrituras como roteiro, criado por Deus, a figura do pastor como o diretor do drama, a igreja como a plateia e o teólogo como dramaturgista, ou seja, aquele que explica o roteiro ao público.

Entendendo essas figuras, sua função e importância, o fato de estar numa comunidade e simplesmente falar “a Bíblia diz” ou “o Espírito me leva a dizer” pode não responder ao que realmente é o Evangelho. Porque cada tempo, cada cultura é diferente, mas as Escrituras são infalíveis. E é nesse momento que a compreensão das Escrituras por parte do teólogo se torna essencial, vai definir se o sujeito que está ouvindo irá compreender ou não, irá aplicar ou não, irá entender da forma correta ou não. Portanto, “a cada nova geração, o compromisso de todo teólogo e teóloga é perguntar-se qual ação comunicadora a igreja deveria reconhecer como oficial e por quê? Como falar sobre Deus e com que autoridade?” (DULCI, 2020).

E o compromisso com o qual esse artigo se ocupa é: como ensinar sobre Deus e sua obra para as crianças sem reduzir esse ensino à mera ludicidade ou recursos audiovisuais? Como ter certeza de que ela está entendendo o que está sendo transmitido ou se aquele ensinamento está adequado para a linguagem relativa à sua idade? McGrath (2015, p. 221) afirma nesse sentido que “a evangelização é de grande importância futura para a sobrevivência e bem-estar da igreja cristã”, um caminho aberto para a necessidade do discipulado no Ministério Infantil.

2. A CRIANÇA COMO PLATÉIA NO DRAMA DA DOUTRINA

Considerando a criança como plateia no Drama da Doutrina, qual seria a tarefa da teologia e a responsabilidade do teólogo considerando o sujeito para o qual estamos direcionando o ensino? O conteúdo nunca vai mudar, mas a forma de transmiti-lo e torná-lo compreensível, sim. No entanto, há de se tomar cuidado com o “como”, pois em muitos aspectos se torna fácil aderir (ou até mesmo reduzir) o momento do ensino bíblico a meras brincadeiras e recursos, sem intencionalidade alguma.

A criança precisa entender, antes de tudo, quem Deus é e o que Ele espera de nós e precisa fazer isso com direcionamento. A Bíblia é recheada de formas literárias que orientam comunidades a como viver de acordo com a Aliança, não seria esse um caminho para conduzir de forma prática e criativa um “cultinho infantil”?

E qual seria o papel de um teólogo focado no ministério infantil? Em quais momentos a criança vivenciaria o que aprendeu naquele espaço? Quando ela aprender sobre a Santa Ceia, por exemplo, qual é o significado desse sacramento para ela, mais um “ritual” da sua comunidade ou verdadeiramente a reconciliação sendo vivenciada? Há uma lacuna aqui, algo está errado e precisa ser corrigida.

Vanhoozer (2016, p. 271) comentando sobre a prática do batismo, explica que “ensinar os recém-convertidos a participar de modo adequado da vida cristã […] incluía aprender as Escrituras e ‘educar o desejo’”. No entanto, hoje, “o número de pessoas que professam a doutrina cristã é maior que o número das pessoas que sabem praticá-la”. Por essa razão, ensinar a doutrina para crianças é mais do que mera interpretação, é um modo de vida que ela precisa aprender e, principalmente, vivenciar.

Ferreira (s/d) afirma que, infelizmente, a pregação para as crianças é algo negligenciado, mas é inegável o quanto o coração delas é receptivo. É comum e evidente ver nos rostos dos pequeninos o valor da pregação para eles. No entanto, existem vícios, como o uso de lições com objetos. Se para adultos há uma variedade de estilos, não há porque não pensar no mesmo para criança, algo muito além de usar apenas brincadeiras ou recursos, algo mais profundo.

CONCLUSÃO

Considerando que o Drama da Doutrina também envolve os pequeninos, agora há de se pensar em como o teólogo irá se posicionar diante desse desafio. E se o ministério infantil também fosse contemplado com professores e professoras teólogos? Além de dar valor ao ensino da doutrina aos “adultos”, discipular crianças é algo urgente, pois está se falando das futuras gerações.

Se a criança não observa o roteiro bíblico sendo encenado pelos seus professores, se os ensinadores não cumprem sua tarefa de transpor a compreensão das Escrituras para os pequeninos, o que esperar da nossa sociedade? Deus, através das Escrituras, nos ensina sobre nós mesmos e como agir diante do mundo. A criança necessita desse direcionamento para ser aquilo para o qual foi chamada, tendo sentido na vida e cumprindo o seu propósito com excelência e contentamento.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DULCI, Pedro Lucas. Vídeo-aulas do Módulo 01 da Tutoria Avançada do Invisible College, 2020.

FERREIRA, Marilene do Amaral Silva. Evangelização e Discipulado com Crianças, S/D. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/evangelismo/evangelismo_criancas.htm> (Acesso em: 16/01/2020).

HILL, Wesley. Kevin Vanhoozer, o rei do drama. Disponível em: <https://teologiabrasileira.com.br/kevin-vanhoozer-o-rei-do-drama/> (Acesso em: 16/01/2020).

MCGRATH, Alister E. A gênese da doutrina: fundamentos da crítica doutrinária. Tradução de A. G. Mendes. São Paulo: Vida Nova, 2015.

VANHOOZER, Kevin. O drama da doutrina: uma abordagem canônico-linguística da teologia cristã. Tradução de Daniel de Oliveira. São Paulo: Vida Nova, 2016.


4 comments

  1. Vinicius Sirvinskas Ferreira

    Muito bom o texto. Concordo com todo argumento. Um dos principais motivos que me fez aderir ao Invisible College foi a urgência em cuidar do discipulado das minhas duas filhas pequenas. E esse é um ponto que acho importante enfatizar, os professores, os ensinadores primordialmente responsáveis por essa tarefa são os pais. Enquanto pais, temos que nos conscientizar que essa tarefa é dada por Deus para nós. É uma grande responsabilidade, mas também é uma grande honra poder cuidar da formação espiritual de nossos filhos. Claro, para ajudá-los precisamos de uma formação sólida e organizada em nós mesmos, por isso eu busquei o Invisible College, espero poder contribuir para a formação de minhas filhas. Que Deus me ajude nessa grande tarefa.

    1. Ana Ester

      Que benção, Vinícius! Agradeço a Deus por mães e pais com esse propósito! Meu pai e minha mãe tiveram a mesma preocupação comigo, hoje sou um espelho daquilo que eles me ensinaram quando criança! Deus os abençoe e fortaleça nessa missão!

  2. Patrícia Barreto

    Que reflexão profunda em tão poucas palavras. Que organização! Deus seja louvado pela sua vida. Deus abençoe você cada vez mais.

    1. Ana Ester

      Amém, querida irmã! Grata a Deus por poder abençoar sua vida!

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