Escrito por Giovanna Staggemeier, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2022
Introdução
Atualmente, uma das maiores lutas para os cristãos é a impaciência. Tudo é muito rápido: o acesso à informação, o contato com pessoas ao redor do mundo, as compras, os envios e as entregas. Parece que estamos desaprendendo a lidar com os processos que levam tempo. Sobre isso, Vanessa Belmonte, em seu livro O lugar da espera na vida cristã, diz:
Porque viver é, em grande medida, esperar. Ter fé é, também, esperar. E esperar dói. Mas a dor da espera não é a mesma de ficar parado e aguardar sem poder fazer nada. É, na verdade, mais parecido com a dor de uma semente que, escondida no solo, rasga a terra enquanto cresce.” (BELMONTE, 2021, p. 20 e 21)
Se estamos lidando com o tempo, lidaremos com a espera. Deus quer que esperemos porque por meio disso somos transformados e nos aproximamos dele. Não é um tempo gostoso e suave, mas nos leva a se apegar cada vez mais às promessas que Ele nos fez. É possível aprender muito sobre espera e o tempo certo para cada coisa por meio da teologia bíblica. Nessa disciplina estudamos sobre a autorrevelação divina para a humanidade.
No livro Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos, Geerhardus Vos diz que a revelação de Deus é progressiva porque acompanha o processo de redenção, desenvolvido por meio da sucessão de gerações da humanidade (VOS, 2019, p. 16). Isso significa que ela é iniciada de forma mais rudimentar e, com o passar do tempo, da história e das gerações, se torna mais complexa. Todo esse processo é demorado. Dentro disso, vale destacar que ela é orgânica, ou seja, não é qualitativamente melhor ou pior por ser mais ou menos complexa. Para fins didáticos, Vos dá o exemplo de uma árvore: a semente não é pior ou melhor do que uma muda ou que uma árvore adulta. Apesar de terem diferentes graus de complexidade, todas as fases possuem o mesmo valor e natureza (VOS, 2019, p. 18).
A autorrevelação de Deus traz um solo firme para entender quem Ele é, como Ele se relaciona com o tempo e nos traz reflexões sobre como podemos lidar com tudo isso.
Aspecto relacional
Primeiramente, vale ressaltar que o propósito da revelação não é meramente intelectual, mas, sim, relacional; ou seja, a revelação tem como objetivo nos levar a amar a Deus. Sobre isso, Vos diz: “Tudo o que Deus desvendou de si mesmo veio em resposta às necessidades religiosas práticas de seu povo à medida que essas emergiam no curso da história.” (VOS, 2019, p. 20). Deus se revelou progressivamente, de acordo com as necessidades de seu povo.
Ele poderia se revelar de forma absoluta e imediata, porém não seria o mais adequado para que nós, como humanidade, o entendêssemos. Imagine pensar no caráter de Deus sem pensar no que Ele fez. Por exemplo, pensar em seu poder sem que Ele abrisse o Mar Vermelho ou pensar em sua misericórdia sem que Ele tivesse agido por intermédio dos profetas.
Deus não está preso ao tempo como nós estamos, porém, é muito interessante perceber que Ele não tem pressa em se autorrevelar por completo logo de primeira. A prioridade dele não é meramente se tornar conhecido, mas sim fazer o conhecimento ser o que leva ao amor e ao estreitamento em uma aliança através da história.
Aspecto complementar
Na Bíblia há diversos trechos que falam sobre a limitação humana e sobre como devemos lidar com o tempo. No livro de Eclesiastes, capítulo três, o autor fala sobre o tempo certo para cada ocasião. Nos versículos de nove a quinze, especificamente, é falado sobre como Deus tem o controle sobre os eventos da vida humana e também sobre os seus feitos serem formosos em seus tempos específicos. O versículo 11 diz: “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até o fim”. Por meio desse texto podemos ver que Deus é intencional no que faz. Mesmo que nós não o entendamos por completo, podemos confiar que a sua obra é boa, perfeita e agradável desde o Éden, até hoje.
Traçando conexões entre a forma com que Deus se revela e o que Ele diz sobre o tempo, conseguimos entender de forma mais completa o seu caráter. É muito interessante ver como Deus é didático em toda a sua revelação; podemos aprender por meio de todas as suas ações.
Conclusão
Deus é relacional e didático em seu caráter e sua revelação. Ao estudar teologia bíblica, a relevância do aspecto orgânico da revelação fica cada vez mais evidente. Isso faz com que se torne mais clara a importância desse aspecto em nossas vidas com Deus.
Olhar para o amor e intencionalidade de Deus para conosco faz com que seja mais fácil de entendermos qual o propósito dele em fazer as coisas gradual e organicamente. Como Vos diz, a revelação é orgânica; e, como Belmonte diz, a dor da espera também é orgânica. Não podemos fugir desse aspecto em nossas vidas. Precisamos estudar e aprender cada vez mais sobre qual o propósito de Deus com tudo isso.
Acreditamos que o estudo teológico é fundamental para todo cristão, e não apenas para pastores ou líderes. Afinal, a teologia nos ajuda a seguir a Cristo em todos os aspectos da nossa vida!
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Referências bibliográficas
BÍBLIA. Português. Bíblia de estudo de Genebra. Tradução de João Ferreira de Almeida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2009. 1970 p.
BELMONTE, Vanessa. O lugar da espera na vida cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2021. 108 p.
VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos. Trad. Alberto Almeida de Paula. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2019. 495 p.