Escrita por Vanessa Soeiro Carneiro, estudante do Programa de Tutoria Filosófica 2023
Encerrando nossa série de resenhas sobre a coleção Uma nova história da filosofia ocidental, escrita por Sir Anthony Kenny, analisaremos, de forma crítica, o quarto e último volume dessa coletânea: Filosofia no mundo moderno. Entretanto, antes de dissertarmos sobre o conteúdo da obra em si, é importante fazermos algumas considerações gerais sobre este livro a partir da observação do sumário e da leitura da Introdução.
Em primeiro lugar, este livro abrange o período do século XIX até quase o final do século XX. Em segundo lugar, sua estrutura se assemelha aos dos livros anteriores, contudo, este volume é o que possui mais capítulos. Os três primeiros são reservados para abordar questões históricas e delimitar o corpus cronológico que será trabalhado. Em seguida, Kenny dedica nove capítulos para tratar a respeito de questões importantes para a filosofia desse período. Consequentemente, o último volume de Uma nova história da filosofia ocidental se divide em doze capítulos que, por sua vez, se subdividem em uma quantidade variada de seções.
Do primeiro ao terceiro deles, o autor narra o desenvolvimento do pensamento filosófico, desde Jeremy Bentham até Jacques Derrida, explicando as principais contribuições de cada um dos filósofos retratados. Além disso, ele explica como, após a Revolução Francesa, a filosofia foi se distanciando cada vez mais do mundo teológico e entrando em um estágio positivo ou científico. Portanto, teorias como a psicanálise e o evolucionismo também são abordadas, assim como teorias políticas, tais como o socialismo e o comunismo segundo Karl Marx. Nesses capítulos, também é possível entender como a fenomenologia e o existencialismo surgiram.
No quarto capítulo, Kenny aborda a questão da lógica, assunto que voltou a ser do interesse dos filósofos nesse período. Nele, é mostrado, de uma forma bastante interessante, como a lógica pode ser o resultado de linguagem e matemática. A linguagem em si é o assunto do capítulo seguinte. Não apenas o seu relacionamento com questões de lógica continua a ser tratado como também é possível aprender sobre o surgimento da semiótica, teoria que, resumidamente, aborda a relação entre representações simbólicas e seus significados. Ademais, são levantadas reflexões a respeito do que dá significado aos sons e às formas transcritas que moldam a linguagem.
No capítulo seis, o autor trata da epistemologia – o ramo da filosofia que estuda a aquisição de conhecimentos pelo ser humano. Para tanto, Kenny inicia discorrendo sobre o empirismo de John Mill e John Newman (este segundo sendo, posteriormente, deixado de lado pelos acadêmicos devido à sua abordagem mais religiosa) e sua importância para o desenvolvimento da epistemologia moderna. É interessante destacarmos também que essa seção se conecta às anteriores ao mostrar novamente a importância da lógica e dos teóricos da linguagem.
No capítulo sete, Kenny discute sobre a metafísica, que por muito tempo foi desprezada pelos filósofos durante esse período, abordando questões como a vontade e a evolução do universo. Um dos principais autores que ele destaca é Charles Peirce. Logo, é possível perceber que, mais uma vez, aspectos relacionados à linguagem, e também à lógica são imprescindíveis para se compreender um ramo da filosofia.
O capítulo oito aborda a relação entre a filosofia e a psicologia, mostrando como essa segunda buscava desvendar o funcionamento da mente por meio de diferentes teorias, como a psicanálise e o behaviorismo, por exemplo. Por sua vez, o capítulo nove discorre sobre a ética, evocando temas como prazer, felicidade, vontade e moralidade.
O décimo capítulo trata da questão da estética. Por ser a única obra da coleção a abordar tal assunto, há uma leve sobreposição com o século XVIII nessa seção. Kenny inicia explicando que a palavra “estética” foi cunhada por Alexander Baumgarten, em 1735. Entretanto, A crítica da faculdade do juízo, escrito por Kant no final desse século, foi o principal tratado sobre estética utilizado no século seguinte. Ao longo do capítulo, o autor discute sobre beleza a principal função da arte (abordando tanto literatura quanto pintura e música), segundo diferentes filósofos.
O capítulo onze discorre sobre as principais preocupações políticas dos filósofos desse período, sendo uma das principais discussões a questão dos direitos da mulher. Quanto a isso, Kenny destaca os posicionamentos opostos de Kierkegaard e Schopenhauer (favorável e contrário, respectivamente). Ademais, ele também fala sobre o surgimento do marxismo e sobre a visão de Marx a respeito do trabalho. No capítulo final, o autor discute sobre espiritualidade apresentando as diferentes visões que os filósofos possuíam acerca das religiões, da fé e de Deus.
De modo geral, a experiência de leitura do livro Uma nova história da filosofia ocidental: Filosofia no mundo moderno é fluída. A obra é estruturada de maneira didática e os assuntos de cada capítulo estão concatenados (principalmente por meio de conceitos linguísticos e lógicos) de modo a facilitar a compreensão do leitor. A escolha por um vocabulário menos rebuscado também contribui para isso. Este é um livro recomendado para estudantes e/ou entusiastas de filosofia. Entretanto, apesar de ser uma leitura relativamente fácil, é necessário que o leitor possua conhecimentos prévios a respeito da filosofia desenvolvida antes do período abordado nesse volume.