fbpx

O conhecimento de Deus  

Escrito por Brunno Campos de Oliveira, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2023


“Deus é o bem supremo do homem — esse é o maior testemunho de toda a Escritura”.

(Bavinck)

O desejo de Deus em se revelar e se deixar ser conhecido está expresso em toda a narrativa bíblica. No início, Deus criou todas as coisas, preparou o Éden para a chegada do homem e, a partir disso, passou a se relacionar diariamente com Sua criação. Quando houve a queda, Deus estabeleceu um pacto em que prometeu dar fim definitivamente à separação entre Criador e criatura. Um dia, o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente. Até o cumprimento dessa promessa, Deus se manifestou ao Seu povo de diversas formas. Ele foi a Voz que chamou um povo. Uma coluna de nuvem e de fogo no deserto. O Anjo na dificuldade. O Verbo encarnado que andou no nosso meio. O Espírito que habita em nós. Em sua obra Teologia Bíblica, Geerhardus Vos afirma: “Porque Deus deseja ser conhecido dessa maneira, ele fez que sua revelação acontecesse no meio da vida histórica de um povo”1. O anseio de Deus é um: “Eles serão o meu povo e Eu serei o seu Deus”2.

O fato do Criador nos fazer semelhantes a Ele e sermos a única criatura a ser chamada descendência Dele cria uma identificação propícia para o desenvolvimento de um relacionamento. Nas palavras de Herman Bavinck: “A Bíblia começa relatando que Deus criou o homem segundo sua imagem e semelhança, a fim de que ele conhecesse Deus, seu Criador, corretamente, para que o amasse com todo o seu coração e vivesse com ele em eterna bem-aventurança”3.

Não é possível crer naquilo que não conhecemos4, naquilo que não nos identificamos. Como então conhecê-Lo? Para o Ocidente, afundado na cosmovisão moderna, que enxerga o mundo pelas lentes do raciocínio grego, fundamentado na sistematização do conhecimento, na lógica e na razão, é difícil absorver o conhecimento de Deus. Em As Maravilhas de Deus, Bavinck entende que “Deus é conhecido na mesma proporção que é amado”5. Jesus nos dá pista de como amar a Deus, quando diz no evangelho de João: “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele”6.

O conhecimento de Deus, portanto, é de outra ordem. Bavinck escreve:

Esse conhecimento de Deus é diferente em tipo, não apenas em grau, do conhecimento que obtemos na vida cotidiana ou na escola. É um tipo peculiar de conhecimento, o qual difere em princípio, objeto e efeito de qualquer outro tipo de conhecimento […] Esse conhecimento é uma questão tanto da mente quanto do coração, e ele não nos torna mais “eruditos”, pelo menos não em primeiro lugar, mas nos torna mais sábios, melhores e mais felizes.7

Para os profetas, os apóstolos e a igreja que vieram antes de nós,

Deus não era um conceito frio o qual eles buscaram analisar racionalmente, mas sim uma força viva e pessoal, uma realidade infinitamente mais real do que o mundo ao redor deles. Na verdade, ele era para eles o único, eterno e venerável Ser. Eles contaram com ele em suas vidas, viveram em sua tenda, andaram como se sempre estivessem perante sua face, serviram-no em seus átrios e o adoraram em seu santuário.8

Trata-se, assim, de um conhecimento visceral, que não pode gerar outro fruto senão uma vida em que a fome é saciada ao satisfazer a vontade do Ser de Deus. Ninguém melhor do que Jesus para nos ensinar sobre como conhecer a Deus. Afinal, Ele afirma: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a sua obra”9. Em Cristo, encontramos a plenitude do conhecimento de Deus. Jesus nos promete (Jo 14:21) que se nós O amarmos, Ele se revelará a nós. Nas Escrituras, lemos: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. Ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar”10. O conhecimento de Deus está disponível a nós por meio do Filho, em nossa comunhão com Ele. “A comunhão em que Cristo, de acordo com as Escrituras, entrou conosco é tão íntima e profunda, que não podemos formar uma ideia ou imagem dela”11.

O efeito desse conhecimento é o desfrutar de uma eternidade em Deus. “Foi nesse sentido que Cristo disse que a vida eterna, isto é, a totalidade da salvação, consiste no conhecimento do único e verdadeiro Deus e de Jesus Cristo, aquele que ele enviou”12. No desenrolar da narrativa bíblica, muitas foram as analogias feitas para expressar quem Deus é. Ele é comparado ao leão, à águia, ao sol, ao fogo, à fonte, ao escudo, mas tamanha é a Sua grandeza que não existe um significado que possa defini-Lo plenamente. Segundo Bavinck: “O conhecimento que Deus nos concede de si mesmo na natureza e na Escritura é limitado, finito e fragmentado, mas, ainda assim, é verdadeiro e puro. Deus é como Ele se revelou em sua Palavra, e especialmente em e por meio de Cristo; e somente Ele é exatamente como nossos corações precisam”13.

Nem mesmo em toda a eternidade seremos capazes de conhecer Deus em Sua totalidade, e isso é reconfortante e belo. “Deus é grande e não podemos compreendê-lo […] Tal conhecimento é maravilhoso demais para nós; elevado demais para que possamos alcançá-lo”14. A cada dia seremos surpreendidos pela revelação de mais um de seus infinitos atributos, pela Sua grandeza e poder, pelo Seu Ser imensurável. 

Deus escolheu se revelar a nós para que pudéssemos conhecê-Lo e adorá-Lo. O conhecimento de Deus é de uma natureza peculiar e só pode ser alcançado por nós através de Cristo. O produto desse conhecimento é a salvação completa, a saber, uma eternidade desfrutando de uma comunhão profunda e perfeita Nele. 


Quer entender mais sobre teologia e filosofia?


1 VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica – Antigo e Novo Testamentos. Tradução de Alberto Almeida de Paula. São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 20.

2 Jeremias 32:38 (NVI).

3 BAVINCK, Herman. As maravilhas de Deus: instrução na religião cristã de acordo com a confissão reformada. Tradução de David Brum Soares. São Paulo: Pilgrim Serviços e Aplicações; Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021, p. 51.

4 Ibid., p. 396.

5 Ibid., p. 57.

6 João 14:21 (NVI).

7 BAVINCK, H., op.cit., p. 175.

8 Ibid., p. 52.

9 João 4:34 (NVI).

10 Mateus 11:27 (NVI)

11 BAVINCK, H., op.cit., p. 433.

12 Ibid., p. 53.

13 Ibid., p. 180.

14 Ibid., p. 178.

Referências bibliográficas

BARTHOLOMEW, Craig G.; GOHEEN, Michael W. Introdução á cosmovisão cristã: vivendo na intersecção entre a visão bíblica e a contemporânea. Tradução: Marcio Loureiro Redondo. 1ª ed. São Paulo. Vida Nova, 2016. 272 p.

BAVINCK, Herman. As maravilhas de Deus: instrução na religião cristã de acordo com a confissão reformada. Tradução de David Brum Soares. 1ª ed. São Paulo: Pilgrim Serviços e Aplicações; Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021. 736 p.

BÍBLIA DE ESTUDO NVI. Nova Versão Internacional. São Paulo. Editora Vida. 2003. 2424 p.

VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica – Antigo e Novo Testamento. Tradução: Alberto Almeida de Paula. 2ª ed. São Paulo. Editora Cultura Cristã, 2019. 496 p.