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Resenha: Teologia Bíblica — Antigo e Novo Testamentos

VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos. 2 ed. Tradução de Alberto Almeida de Paula. São Paulo: Cultura Cristã, 2019.


Resenha escrita por Luiza Zagonel, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2021

Geerhardus Vos (1862-1949) nasceu na Holanda e emigrou para os Estados Unidos aos 19 anos, quando seu pai aceitou um convite para pastorear uma igreja em Grand Rapids, Michigan. O jovem Geerhardus logo entrou para o seminário e dedicou sua vida ao ensino da Teologia Bíblica, principalmente no Seminário de Princeton, onde foi professor até 1932. Ele sempre buscou ser fiel às Escrituras Sagradas, mesmo quando em meio a teólogos liberais, e ficou conhecido como o “pai da Teologia Bíblica Reformada”1.

Sua obra Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos foi publicada em 1948 e traduzida para o português em 2010. No prefácio, Vos afirma preferir o nome “História da Revelação Especial”, tendo em vista que toda teologia cristã deve ser bíblica, mas manteve o título Teologia Bíblica por este ter se tornado um termo que se tornou estabelecido devido ao uso frequente. Para ele, a Teologia Bíblica lida com o conteúdo das Escrituras do ponto de vista histórico (diferentemente da Teologia Sistemática, que organiza esse material de forma lógica), “procurando expor o crescimento orgânico ou o desenvolvimento das verdades da revelação especial” (p. 5).

Sua visão do crescimento orgânico da revelação perpassa todo o livro, explicada na Introdução, onde o autor ilustra o conceito com a imagem de uma árvore, desde seu estado germinal até o pleno desenvolvimento, passado por diferentes fases, avançando de maneira não uniforme. Segundo Vos, “a verdade é inerentemente rica e complexa porque Deus mesmo o é” (p. 19). Além disso, a revelação está diretamente ligada à redenção, que também avança de maneira orgânica ao longo da história.

O livro, fundamentado nessa percepção, se subdivide em três partes. A primeira é intitulada “O período mosaico da revelação”. Essa sessão se inicia com a Introdução, onde o autor aborda algumas definições, métodos e usos práticos da Teologia Bíblica (além de, conforme já citado, explicar seu entendimento de crescimento orgânico da revelação). O segundo capítulo é intitulado “O mapeamento do campo da revelação”, e nele Vos trata das distinções entre a Revelação Geral e a Revelação Especial, e também dos termos que a Bíblia usa para se referir a “pacto” (ou “testamento”): berith (hebraico) e diatheke (grego).

Após abordar esses aspectos mais introdutórios, e ainda na primeira parte do livro, o autor passa para o conteúdo da revelação, começando com a “Revelação Pré-Redentora”, ou seja, aquela que antecedeu a Queda, e que encontramos nos primeiros capítulos de Gênesis. O capítulo quatro diz respeito à “Primeira Revelação Especial Redentora”; de acordo com Vos, “o termo ‘redenção’ é usado aqui em antecipação” (p. 59), não estando presente no texto bíblico. Essa primeira revelação redentora aparece em Gênesis 3, e contém tanto elementos de maldição quanto de graça. Apesar de ainda não haver o conceito de um Messias pessoal, a essência da fé era a mesma: “confiança na graça de Deus e seu poder de trazer libertação do pecado” (p. 62).

O quinto capítulo trata da revelação após a expulsão de Adão e Eva do Éden até o período de Noé; no capítulo seguinte, Vos aborda o período entre Noé e os patriarcas. O capítulo sete é dedicado à revelação no período de Abraão, Isaque e Jacó. O último (e mais longo) capítulo desta sessão é intitulado “Revelação no Período de Moisés”, com destaque para os Dez Mandamentos, a Lei Cerimonial, o Tabernáculo e sua relação com Cristo.

Na segunda parte do livro, intitulada “O Período Profético de Revelação”, o autor aborda o lugar do profetismo no Antigo Testamento, iniciado por Samuel no período de “organização do reino teocrático sob um governante humano” (p. 227). Para Vos, a profecia possui tanto uma atitude retrospectiva quanto prospectiva: “Sua pregação de arrependimento e do pecado de apostasia das normas do passado liga-a com o trabalho precedente de Yahweh por Israel nos períodos patriarcal e mosaico. Por meio de seus elementos preditivos, ela antecipa a continuidade com o futuro” (p. 230).

Os demais capítulos dessa segunda parte abordam o conceito de “profeta” a partir de termos hebraicos e grego; a história do profetismo (em diálogo com teorias críticas); o modo como a revelação profética foi recebida; o modo de comunicação da profecia (falas e milagres) e, por fim, o conteúdo desse período de revelação.

A terceira parte do livro é dedicada ao Novo Testamento. O diferencial da obra de Geerhardus Vos é seu foco no ministério de Cristo em sua primeira vinda; Vos não se preocupa em fazer uma análise de Atos, das Epístolas ou do Apocalipse, como outros autores costumam fazer em suas Teologias do Novo Testamento. Ele os aborda rapidamente no primeiro capítulo, “A Estrutura da Revelação do Novo Testamento”, em que afirma que “o Novo Testamento é um todo orgânico e completo em si mesmo” (p. 364).

Os capítulos finais do livro, então, se voltam para a revelação no Período do Cristo. A começar pela “Revelação em Relação à Natividade” (capítulo 2), passando pela “Revelação em Relação a João Batista” (capítulo 3) e pela “Revelação na Provação de Jesus” (capítulo 4). Finalizando com a “Revelação do Ministério Público de Jesus”, o capítulo mais longo desta sessão, com ênfase para o uso das parábolas e, especialmente, no ensino de Cristo a respeito do Reino de Deus. Vos encerra o livro da seguinte forma:

A igreja nasceu e permanece sob a marca da consumação e descanso, bem como de movimento. Ela consiste não somente de mero fazer, mas também de gozo, e esse gozo não pertence exclusivamente ao futuro. Ele é a parte mais abençoada da vida presente. E a melhor prova para a igreja como um fim próprio está na sua inclusão no mundo escatológico, pois esse mundo não é o mundo das coisas que se tem em vista, mas das coisas obtidas. (p. 481)

Um dos maiores méritos de Geerhardus Vos com esta obra está em sua ênfase no crescimento orgânico da revelação, uma espécie de fio condutor que perpassa toda a obra e a mantém conectada. De forma que se percebe a continuidade entre os vários momentos de revelação, que não devem ser vistos como isolados uns dos outros. O autor se mantém fiel às Escrituras em sua análise, em alguns momentos até mesmo combatendo o liberalismo teológico tão presente em sua época. É recomendada a todos aqueles que queiram compreender como ler o Antigo e o Novo Testamentos como uma única obra, cujo desenvolvimento foi progressivo, escrita por um Único Autor, que ainda hoje Se revela a nós por meio da Sua Palavra.

¹ DENNISON, James T, Jr. The Father of Reformed Biblical Theology: Geerhardus Vos (1862-1949). Credo, 2012. Disponível em: <https://credomag.com/2012/09/the-father-of-reformed-biblical-theology-geerhardus-vos-1862-1949/> Acesso em: 04 abr 2021.