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Teologia do pacto: uma forma perfeita de pertencimento

Escrito por João Pedro Neto, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2023


“Ele está presente pessoalmente em todos os seus favores, e, neles, ele se rende a si mesmo ao seu povo para o desfrute perfeito.”

(Geerhardus Vos)

A linearidade da história pactual

A teologia bíblica existe para sistematizar a história da revelação divina e sua progressão ao longo dos tempos. Seu objeto, que envolve a compreensão da mensagem das Escrituras, é a única forma de desenhar uma narrativa com início, meio e fim, carregada de veracidade canônica. O objetivo, então, é entender a mensagem de Deus para a humanidade e seu plano para a salvação; isso inclui deixar de pensar nos livros bíblicos como desconexos de temporalidade e fragmentados de mensagem.

Nesse sentido, antes mesmo da criação, Deus decidiu revelar-se a nós e essa história tem um percurso linear, cuja disposição inicial e final está na eternidade. A Bíblia narra o período em que Deus trouxe à vida tudo o que existe — todos os elementos da realidade e criaturas. Ao homem, a última obra de suas mãos, foi dado o dever de dominar sobre tudo o que foi criado. Apesar de tal responsabilidade privilegiada, o pecado separou o homem de Deus, mas, através de um ato unilateral divino, um pacto foi estabelecido, prometendo uni-los novamente. Desde tal fatalidade no jardim, Deus é quem se move em direção à humanidade, já que a decadência pecaminosa nos deixou incapazes de dar um passo sequer em direção ao Senhor.

Esse pacto, que culmina na obra redentora de Cristo, teve sua importante agência nas histórias que perpassam a vida de Adão, Noé, Abraão, Moisés e Davi (como personagens-chave) até, finalmente, a encarnação do Filho de Deus na Terra. Todo esse desenvolvimento foi marcado por administrações importantes que serviram para relembrar os herdeiros de tal promessa de reconciliação que o pacto ainda estaria de pé, independentemente de qualquer situação circunstancial. Nas palavras de Geerhardus Vos,

A obra redentora de Deus, por sua natureza, passa por três períodos. Seu início é marcado por um alto grau de energia e produtividade; eles são os começos criativos. O período mediano é de sofrimento e de entrega, e é passivo, portanto, em seu aspecto. Esse, por sua vez, é seguido pela retomada de energia que vem da transformação subjetiva, caracterizando, assim, o terceiro período. (VOS, 2019, p. 119)

Portanto, os períodos revelados na narrativa bíblica e em seu percurso histórico serviram para que o povo que Deus escolheu para si retomasse o conteúdo do pacto e sua disposição em compreendê-lo, além de sua adoção como base de vida, seja no espectro individual/consciente, seja na vida em comunidade. 

Cristo como intermediador Mor

A história bíblica sempre apontou para um Redentor, Cristo, como o salvador e resgatador daqueles que creem na esperança de seu nome. A forma como Deus conduziu o seu povo e usou de sua Palavra para firmar sua promessa de reconciliação tem desfecho em Jesus, seu Filho; aquele que, mesmo sendo Deus, tomou forma humana para habitar entre o pecado, a fim de extirpá-lo de vez. 

O advento marca o período de sua encarnação e, a partir de então, sua vida e obra são a encenação perfeita do ato de entrega na cruz para a remissão dos pecados da humanidade e a reconciliação com o Pai. Os judeus ansiavam por uma revolução que extinguisse o período de tensão política que Israel estava enfrentando. Entretanto, a maioria sequer deu ouvidos à pregação messiânica de Jesus; ao contrário, acusaram-no de ser um agitador qualquer e esse fato aponta para a expansão do reino de Deus através da adoção de gentios; Cristo ofereceu seu reino de justiça, paz e alegria eternas a quem nEle pudesse crer e seguir. Evidentemente, esse plano de adoção tendo Cristo como intermediador sempre esteve sob a vontade soberana de Deus e é justamente por Ele que confiamos que somos participantes da herança de reconciliação.

Após a morte e ressurreição de Jesus, a igreja cristã é oficialmente institucionalizada, através da vida e pregação dos apóstolos, visando espalhar a notícia de que existe um salvador acessível: Ele veio, voltou ao Pai, retornará para buscar aqueles que o esperam e reinará com eles eternamente. Tal discurso, disposto na Bíblia Sagrada, é o que faz da Palavra um guia para os que creem no pacto divino.

Crer é pertencer

Dentre as menções acima, é importante lembrar, mais uma vez, que a história da redenção é linear e que através da teologia bíblica podemos encontrar uma conexão que nos localiza em tal história. O Espírito Santo é quem nos convence de pertencer ao povo do pacto, por meio de Cristo, mas o estudo teológico faz-se essencial como forma de teorizar tal pertencimento.

Desse modo, Teologia Bíblica, de Geerhardus Vos, é uma obra importante para a compreensão dessa linearidade. Nela, ele ressalta que é impossível enxergar a história da revelação divina de forma isolada per si; ao contrário, só é possível encontrar sentido na mensagem revelacional conectivamente, de modo que toda a revelação voluntária de Deus até os nossos dias é propositiva de conexão.

Para os nossos dias, devemos lembrar que fomos enxertados como povo escolhido de Deus, cuja aproximação se deu por meio da entrega do Filho como aquele que cumpre o pacto. Nossa missão, então, é responder a essa compreensão, tomando domínio desse pertencimento e vivendo integralmente como pessoas que sabem de onde vieram e também para onde irão. A teologia bíblica, como um método que verifica a linearidade da narrativa bíblica e que nela nos inclui, é uma ferramenta importante para nós, pois qualquer possibilidade de fragmentar a mensagem central das Escrituras é derrubada.

Em suma, nosso senso de pertencimento é aguçado quando olhamos para toda a narrativa bíblica e a tomamos como verdade para os nossos corações. Há, certamente, um ar de descanso que nos coloca em pleno deleite, apesar das dificuldades enfrentadas na presente vida. É olhando para a história da revelação e para a sua aplicação direta para nós que podemos experimentar o que de fato é ter, novamente, paz com Deus até o dia em que nos uniremos a Ele eternamente.


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Referências bibliográficas

VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos. Tradução: Alberto Almeida de Paula. 2ª edição. São Paulo. Cultura Cristã, 2019. 496 p.