fbpx

A doutrina do conhecimento de Deus como meio de devoção

Escrito por Débora Stefany de Oliveira Ferreira, estudante do Programa de Tutoria Essencial 2023


Introdução

Segundo as Escrituras, o conhecimento de Deus é um caminho seguido pelos justos1 e aquele que não O conhece perece2. Todavia, o dedicar-se a conhecer o Criador ainda é negligenciado por muitos na comunidade cristã. Assim, enquanto muitos se deslumbram com a grandeza de Deus a ponto de considerá-Lo incognoscível, outros acumulam muitos “saberes” sobre Deus como se pudessem esgotá-Lo. Ambos os extremos fogem do conhecimento de Deus instruído pelas Escrituras, cujo propósito é promover fé, obediência e adoração. 

Por esta razão, o presente artigo se dedica a apresentar a doutrina do conhecimento de Deus e abordar sua aplicação como uma teologia imprescindível para produzir verdadeira devoção, considerando o significado relacional de “conhecimento” nas Escrituras.

A doutrina do conhecimento de Deus

A doutrina do conhecimento de Deus nada mais é que o estudo do Ser de Deus e sua relação com o mundo e com os homens. Entretanto, tal conhecimento é distinto de qualquer outro que possa ser alcançado pela experiência humana. Herman Bavinck, em sua obra As maravilhas de Deus, ensina que este é um conhecimento distinto, especialmente por três razões que merecem seu destaque para melhor compreensão de sua essência e efeitos.

Em primeiro lugar, o conhecimento de Deus é distinto de todos dos demais, primeiro, por sua origem, haja vista que nenhum esforço humano pode encontrar conhecimento de Deus se Ele mesmo não tivesse se revelado pela natureza, pelas Escrituras e, por fim, plenamente por Cristo3 (BAVINCK, 2021, p. 54). Portanto, conhecer a Deus não é simplesmente obter informações, analisar provas de sua existência e descrever todas as suas características e atributos; antes, é conhecê-Lo como Pessoa.

Em segundo lugar, a razão para o conhecimento ser totalmente distinto é por causa do seu objeto, o grandioso e transcendente Deus. Afinal, nas palavras de Bavinck,

como o homem pode conhecer a Deus, o Infinito e Incompreensível, aquele que não pode ser medido nem pelo tempo nem pela eternidade, aquele em cuja presença os anjos cobrem os rostos com suas asas, que vive em uma luz inacessível e que nenhum homem viu ou pode ver? (BAVINCK, 2021, p. 51).

De fato, quando se trata de Deus, estamos falando Daquele que é completamente distinto da criação, que está nos céus e não pode ser visto, Aquele que é onipotente, onipresente e onisciente, características que nos faz dizer que Ele é transcendente, pois está além da compreensão humana. Todavia, Bavinck destaca (2021, p. 56) que esse Deus fora do alcance humano se acomodou à compreensão humana, se fazendo cognoscível através do testemunho de Jesus Cristo. Em Cristo, experimentamos um Deus imanente, que invade a realidade com sua presença e provisão de perto. Desse modo, o conhecimento de Deus converge no Ser e nas Palavras de Jesus, porque Ele é a origem e o conteúdo da doutrina.

Em terceiro lugar, por fim, o conhecer a Deus é uma experiência de estudo diferente de qualquer outra porque é um “conhecimento da fé” (BAVINCK, 2021, p. 57). Não se pode conhecer o Ser de Deus por meio de estudos e métodos científicos, “mas sim em ver o Senhor na pessoa de Cristo, encontrá-lo no caminho da nossa vida e, na experiência das nossas almas, conhecer suas virtudes, sua justiça e sua santidade, e também sua compaixão e sua graça” (BAVINCK, 2021, p. 57).

Dessa forma, o conhecimento de Deus é um conhecimento relacional, pois não é possível ter pleno conhecimento de Deus sem estar envolvido com Ele. Nas Escrituras, o próprio Deus se apresenta como aquele deseja ser conhecido através de relacionamento com Ele, pois o que deseja “é o vosso amor, e não sacrifícios; entendimento quanto à pessoa de Elohim, Deus, mais que ofertas e holocaustos” (Oseias 6:6). 

Sendo assim, aquele que se dedica ao estudo da doutrina de Deus precisa se apegar a Jesus Cristo, que é a origem, o objeto e o alvo de fé que leva até o Senhor e, por esta razão, buscar Sua Palavra e Testemunho fiel, as Escrituras Sagradas. O salmista declara que o caminho dos justos é conhecer a Deus, pois esse é aquele cuja plena satisfação está na Lei do Senhor4. Em Oseias5 é a falta do ensino da Palavra de Deus que faz o povo perecer por não conhecer a Deus. A Sagrada Escritura é, portanto, o principal instrumento que torna a doutrina do conhecimento de Deus possível, e esta, por sua vez, é meio de devoção ao Senhor.

Conclusão 

Em suma, todo estudo acerca do Ser de Deus deve, portanto, ser produzido em completa dependência. Todo o conhecimento é de Deus, quanto à origem, por meio de Deus, quanto à forma, sobre Deus, quanto ao conteúdo e para Deus, pois o resultado precisa ser especificamente devoção: fé, obediência e adoração. Assim, todo bom estudo, reflexão e produção teológica nos coloca de joelhos diante do Senhor e em glorificação de Deus e, então, podemos concluir com Bavinck que “Deus é conhecido na mesma proporção em que é amado” (2021, p. 57).


Quer entender mais sobre teologia e filosofia?


1 Salmos 1:6.

2 Oseias 4:6.

3 Hebreus 1:3.

4 Salmos 1:1-6.

5 Oseias 4:1-9.


Referências

BAVINCK, Herman. As maravilhas de Deus: instrução na religião cristã de acordo com a confissão reformada. Tradução: David Brum Soares. 1ª ed. – São Paulo: Pilgrim Serviços e Aplicações; Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021. 

BÍBLIA KING JAMES ATUALIZADA (KJA). Tradução e revisão: Comitê internacional de Tradução da Bíblia King James, sob direção da Sociedade Bíblia Ibero-Americana & Abba Press no Brasil. São Paulo: Abba Press, 2012.