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Prática de aconselhamento redentivo

Resenha escrita por Fabiane L. de Assis, estudante do Programa de Tutoria – Turma Essencial 2020.

Em Prática de Aconselhamento Redentivo, o pastor, autor e conferencista Wadislau Martins Gomes destaca o caráter pressuposicional do aconselhamento bíblico, esclarecendo que “sua validade depende de pressupostos anteriores revelados na Escritura bíblica”. Considerando “a personalidade humana como tendo realidade somente com referência a Deus”, o autor aponta que é Ele quem estabelece quem o homem é e que “a obra de Cristo refaz o homem à imagem do Eu Sou” (2018, p. 19, 20). O livro, estruturalmente, é constituído por doze capítulos distribuídos em três partes: Relembrando o Aconselhamento Redentivo, Da Teoria à Prática e Processo de Aconselhamento. Além de bibliografia e índice de figuras, o leitor encontrará na obra dois apêndices que trazem uma sugestão de inventário de dados pessoais e de ficha de coleta de dados da entrevista.

A primeira parte do livro, Relembrando o Aconselhamento Redentivo, compreende os capítulos um, dois e três, e situa o leitor nesse modelo de aconselhamento. A proposta da abordagem redentiva, conforme explica Wadislau, “parte da soberania de Deus” o que implica Seu controle, Sua presença e Sua autoridade sobre a realidade do ser humano que é “interpretado” a partir das “categorias bíblicas da Criação, Queda e Redenção” (2018, p. 51, 53). O coração do homem, afetado pelo pecado, passa a empreender uma jornada autônoma, alienada de Deus e só pode ser restaurado pela obra de Cristo. O autor descreve o aconselhamento bíblico como um “processo teocêntrico” uma vez que “Deus inicia todo movimento em graça”. Não se trata, portanto, de mera mudança comportamental, mas de uma transformação que se “inicia de fora para dentro e age de dentro para fora” (2018, p. 81). A complexidade do processo é explicitada por meio da apresentação da tríade , esperança e amor: Ativada pela graça, a fé encontra seu destino em Deus e em Sua Palavra. Nesse lugar de habitação, resulta em uma “expectativa do bem”, “habilita a transcendência do homem interior à percepção exterior” promovendo, finalmente, o amor que possibilita-o agir sobre a realidade de modo que agrade a Deus (2018, p. 83).

A parte 2 da obra, intitulada Da Teoria à Prática, agrupa os capítulos quatro, cinco e seis e se inicia chamando a atenção do leitor para a necessidade de que, no processo de aconselhamento bíblico, “toda a ênfase esteja colocada na centralidade de Deus em relação a todas as coisas”. Diferentemente das abordagens de aconselhamento seculares ou integracionistas, a prática do conselheiro não deve se fundamentar na habilidade própria ou no “potencial humano para a mudança”. Uma abordagem que considera todas as coisas relativas a Deus, mais que livrar a pessoa do problema, se ocupará “da pessoa diante de Deus”, da “expressão do caráter de Deus na vida da pessoa” (2018, p. 93, 95, 96). Essas constatações são implicações do que o autor caracteriza como a natureza, a finalidade e o propósito do aconselhamento bíblico. A relação pactual de Deus com o homem demanda uma “disciplina de ajuda” de natureza espiritual cuja “finalidade é a de ministrar a Palavra de Deus de maneira personalizada, para conduzir pessoas ao livramento das paixões que há no mundo”. O propósito é o de que o homem usufrua o processo aplicando “os elementos da salvação” à vida individual e coletiva (2018, p. 106, 110, 111). Ao final dessa parte, questões de ordem bem prática – relacionadas à totalidade do processo do aconselhamento e das sessões em si – são respondidas pelo autor. 

A terceira parte da obra, Processo de Aconselhamento, é, sem dúvida, a mais prática e apresenta as principais etapas do processo: envolvimento e observação; informação e identificação; reorientação e direção; reflexão; esperança e compromisso; resolução e avaliação. Quanto às dificuldades de envolvimento, vale destacar a importância de se conhecer o contexto de origem do aconselhado e de se agir sob o “princípio da lei: amar a Deus e ao próximo. O amor lança fora o medo” (2018, p. 134). Com relação à etapa de identificação, é imprescindível que o conselheiro bíblico tenha em mente o princípio da “teorreferência de todas as coisas”. Isso manterá o foco “em Deus e em sua Palavra” em vez do problema (2018, p 177). O processo de reorientação se relaciona à ação do Espírito Santo convencendo a pessoa a “mudar o lugar de habitação do seu prazer” (2018, p. 203, 206). Uma transformação profunda, que vai além de mudanças comportamentais.

A etapa da reflexão implica confrontação e arrependimento. De acordo com o autor, esse é o momento em que conselheiro e aconselhado consideram “as soluções de Deus para a transformação do caráter da pessoa e para a solução do problema” (2018, p. 244). Esperança e compromisso perpassam todo o processo de aconselhamento bíblico. Esperança gerada pela Palavra, pela apreensão da obra de Cristo e compromisso com as ordenanças por ela estabelecidas. Finalmente, o momento de resolução e avaliação instrumentaliza e encoraja o aconselhado para o “enfrentamento dos problemas da maneira de Cristo, isto é, redentivamente” (2018, p. 290). Embora cada etapa tenha sido descrita separadamente, cabe ressaltar a observação do autor de que “o processo de aconselhamento é sincrônico, com ênfases diferentes em cada momento (2018, p. 289).

O aconselhamento bíblico tem natureza espiritual, pressupõe princípios estabelecidos pelas Escrituras, lida com o coração do ser humano e por isso vai além de outros tipos de ajuda à pessoa. É uma preciosa ferramenta teológica para o cuidado mútuo na igreja de Cristo, seja evidenciando o poder de Sua obra para a salvação dos incrédulos, seja para o ajuste da conduta daqueles que creem. A Palavra de Deus apresenta os princípios elementares para respondermos em obediência ao Senhor em cada aspecto da vida e por isso deve ser o ponto de partida para uma postura de antítese ou diálogo com as ciências diversas. A displicência na observação dos termos estabelecidos pelo Senhor tem comprometido a integridade do Corpo de Cristo de muitas maneiras, sobretudo por meio da “suplementação” das Escrituras com concepções que lhes são estranhas. Habite, de fato, e ricamente, a palavra de Cristo em todos nós.


GOMES, Wadislau M. Prática de Aconselhamento Redentivo. Brasília – DF: Editora Monergismo, 2018, 340 p.